A educação

A educação


Madre Teresa de Calcutá contava: “Meu pai se chamava Kole Bojaxhiu. Ele era comerciante e viajava pela Europa toda. Quando voltava para casa, reunia todos os filhos ao seu redor e contava o que tinha visto e feito. Era um homem severo e exigia muito de todos nós. Mas era também muito generoso. Às escondidas, doava alimentos e dinheiro sem chamar atenção, nem se vangloriar. Dizia sempre:

 - Devem ser generosos com todos como Deus foi generoso conosco: nos deu tanto, tanto, por isso façam o bem a todos! 

Certa vez ele me disse:
 - Filha, nunca receba e nem aceite um pedaço de pão, se não for partilhando com os demais!

No último domingo do ano litúrgico,  celebramos a Solenidade de Jesus Cristo Rei do universo e somos lembrados, pelo evangelho, que seremos julgados por ele pelo amor, a misericórdia e a compaixão. Nada mais, mas, também, nada menos. O maravilhoso dessa página de Mateus é a surpresa de todos, justos e injustos. Todos perguntarão: - Quando, Senhor, te vimos com fome e te demos – ou não te demos - de comer? 

Isso significa que devemos aprender a reconhecer o Senhor naqueles com os quais ele quis se identificar: os famintos, os sedentos, os estrangeiros, os nus, os doentes e os presos. Uma simples amostra para exemplificar aquela parte da humanidade ainda desprezada, excluída, esquecida. Jesus começa com os sofrimentos imediatos, aqueles que fazem doer o estomago, que matam fisicamente ou pelo abandono em esperas e castigos intermináveis. Depois, nós juntamos as obras de misericórdia espirituais. Justo, mas querer consolar sem dar comida é considerar o faminto um anjo, mais do que nós, provavelmente, de barriga bem cheia. Seria uma fé morta, que mata e não doa vida (Tg 2,14-17). 

Com a “surpresa” final, descobrimos que ninguém terá alguma vantagem, nem os justos e nem os injustos. Mais uma grandeza de Deus, que não deixa de enviar mensagens e mensageiros, mas  não obriga ninguém a fazer o que não escolhe e decide em seu coração. É a liberdade que dá valor a qualquer gesto de amor. Algo se deve e se pode planejar, sem dúvida: assistência, proteção social, planos de resgate para pessoas necessitadas. É o mínimo que uma sociedade civilizada deveria conseguir. O contrário seria a barbaridade, o descaso total. Não seremos, porém, julgados sobre os resultados das grandes obras, das estatísticas, da propaganda usada para explicar como e onde os milhões foram gastos. Nada disso. O “julgamento” estará mais uma vez nos gestos simples, pobres, mas fraternos, de aproximação, de encontro, de capacidade de reconhecer a pobreza comum de todos, a fragilidade e a solidão, enfim, de todos. Servem obras grandes, dinheiro público para sustentar muitas coisas, mas a pouco serviria se não mudasse o coração de cada um, se ficássemos satisfeitos com resultados exteriores, por maiores que fossem, mas não aprendêssemos a amar o nosso irmão, a vê-lo como o próprio Jesus ainda crucificado e sofredor. Foi assim que Deus viu o povo escravo no Egito e decidiu libertá-lo (Ex 3,7-10). Foi assim que o Pai viu a humanidade toda e enviou o seu Filho para nos resgatar do pecado e da morte. “Não poupou o seu Filho” diz João (Jo 3,16-17). Ele mesmo veio no meio de nós, não mandou planos acabados para ser cumpridos. Deu o exemplo! 

Nada substitui a generosidade pessoal, o afeto e atenção que todos podemos dispensar – e receber, claro – a quem entendemos que esteja precisando. Sempre precisaremos de caridade planejada, porque o bem deve ser bem feito e não improvisado. Mas a todos e a todas, cristãos e não, é dada a chance de ter compaixão, de se deixar tocar pelo sofrimento do outro. É como dizer que ninguém está perdido de antemão ou esteja fora da possibilidade de fazer o bem. Só precisa aprender e acreditar que vale a pena. Ser bons e compassivos nos humaniza, nos torna imagem verdadeira do Pai misericordioso, não de um Deus poderoso que amedronta e castiga. Um Pai que educa sempre os seus filhos. Um Deus Mãe que sente compaixão e amor pela nova vida que carrega em si: o pequenino ainda desamparado.  



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