Caso cabo Emily: crime completa um ano e sem data para julgamento de soldado, no AP



Um ano após a morte da cabo da Polícia Militar (PM) do Amapá Emily Monteiro, familiares e amigos ainda aguardam o julgamento do ex-namorado dela. Réu confesso, Kassio de Mangas, soldado da PM, foi preso dois dias após o crime. A Justiça decidiu no dia 1º de agosto que o acusado vai a júri popular. O crime completa um ano nesta segunda-feira (12).

O assassinato, que aconteceu em 12 de agosto de 2018, Dia dos Pais, chocou a população na época. Apesar da tristeza provocada, o crime contra Emily motivou outras mulheres e até instituições a buscarem pela resolução de casos de violência doméstica e foi criada, então, uma “onda” de ações que pedem o respeito ao sexo feminino.

 

 

Eudes e Aldineia, pai e mãe de Emily Monteiro, seguram bandeira em homenagem a filha — Foto: John Pacheco/G1

 

Emily foi morta com quatro tiros, aos 30 anos, dentro da casa onde morava com o ex-namorado Kassio Mangas. Ela atuava no Batalhão de Policiamento Rodoviário Estadual (BPRE), era apaixonada pela profissão de militar e tinha muitos sonhos, segundo familiares, que recordam dela como uma mulher carinhosa, batalhadora e guerreira.

 

Crime

Crime aconteceu no dia 12 de agosto de 2018, na Zona Norte de Macapá — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

De acordo com a apuração da Polícia Civil, a cabo da PM foi morta por volta das 17h do dia 12 de agosto de 2018, no quarto da casa localizada no bairro Pacoval, na Zona Norte de Macapá.

A investigação entendeu que o crime contra Emily foi motivado pelo fato de o soldado não aceitar o término do relacionamento que tinham há quase 2 anos.

 

 

Soldado da PM foi filmado saindo da casa da cabo Emily com arma na mão, após o crime — Foto: Reprodução

 

O casal teria tido uma briga antes, o soldado retornou à casa e, então, disparou quatro vezes na ex-namorada, na cabeça, no peito, no abdome e na coxa dela. Ela estava deitada na cama, quando foi ferida pelos tiros da arma usada no crime, uma pistola .40. Câmeras de segurança mostram ele com uma arma na casa.

Emily chegou a ser socorrida e levada para o Hospital de Emergência (HE) da capital, mas não resistiu. A polícia apurou que, depois de atirar nela, o soldado saiu calmamente do local do crime.

 

 

Carro levado por ex-namorado de PM após assassinato foi abandonado em rodoviária de Macapá — Foto: John Pacheco/G1

Mangas fugiu no carro de Emily e deixou o veículo no dia seguinte no terminal rodoviário de Macapá, onde recebeu carona do irmão, que disse não saber do crime. No dia 14 de agosto de 2018, dois dias após o assassinato, ele se entregou na Delegacia de Crimes Contra a Mulher (DCCM), onde prestou depoimento acompanhado de um advogado.

Como a Justiça já havia expedido mandado de prisão preventiva contra ele, Mangas foi encaminhado ao Centro de Custódia do Zerão, na Zona Sul, onde segue preso.

A investigação detalhou que “os quatro disparos foram efetuados lentamente, quase que como forma de tortura”, impossibilitando qualquer defesa de Emily; e que Mangas se aproveitou da relação afetiva que tinha com a vítima para cometer o crime.

 

Julgamento

O PM foi pronunciado pela Justiça no dia 1º de agosto, determinando que Mangas seja submetido a júri popular pelo crime. O caso aguarda, agora, o agendamento do julgamento pela 1ª Vara do Tribunal do Júri de Macapá.

Ao ser pronunciado, Mangas teve a prisão preventiva mantida pelo juiz Luiz Nazareno Hausseler, justificando que ele é uma “pessoa violenta, capaz de praticar fatos semelhantes”, além de “atemorizar as testemunhas”.

O inquérito foi concluído e o réu foi denunciado em menos de um mês após o crime. O documento acusatório foi assinado pelos promotores de Justiça Iaci Pelaes dos Reis e Eli Pinheiro de Oliveira. A audiência de instrução foi realizada em outubro de 2018, quando testemunhas e Mangas foram ouvidos pelo judiciário pela primeira vez.

Ao denunciar o PM, o Ministério Público (MP) do Amapá elencou 10 testemunhas de acusação. Para o órgão ministerial Emily foi morta “por ser mulher, que, segundo a mentalidade machista dele, não poderia exercer sua liberdade e fazer escolhas, inclusive, a de romper o relacionamento”.

Ainda segundo o MP, ao depôr à polícia, Mangas declarou que “estava fora de si e atordoado” no momento em que matou Emily, mas que “as provas coligidas pelas Delegadas de Polícia contradizem essa versão, evidenciando que ele praticou o assassinato de forma consciente, em atitude covarde, fria e sem demonstrar qualquer gesto de arrependimento”.

Podendo ser condenado a 30 anos de prisão, Mangas foi denunciado por homicídio quadruplamente qualificado:

 

  1. motivo torpe;
  2. uso de meio cruel;
  3. impossibilidade de defesa da vítima;
  4. feminicídio;

 

e ainda por fraude processual, em concurso material. O inquéritoaponta que o quarto onde houve o assassinato foi limpo com ajuda de um edredom e que os quatro projéteis usados nos disparos foram removidos do local.

 

Violento

Kassio de Mangas dos Santos segue preso preventivamente por determinação da Justiça. Ele é macapaense, tem 30 anos, é e soldado da PM. O MP, responsável pela acusação, também o descreve como uma pessoa violenta.

Inicialmente, Mangas era acompanhado pelo advogado Kleber Assis, que declarou em 2018 que o crime não foi premeditado e que não houve alteração na cena do crime. Atualmente, o PM é acompanhado pelo advogado Diony Melo.

Ao denunciar o PM, os promotores ressaltaram que Mangas já tinha duas ocorrências policiais registradas contra ele na Delegacia da Mulher por ter praticado agressões contra outras ex-namoradas.

Na cadeia, ele se envolveu em uma confusão com uma agente prisional no mês de abril. Ele foi preso após discutir com ela pelo uso de um celular. Mangas teria praticado desacato e feito ameaças à agente. Leia mais.

A Justiça concedeu liberdade provisória pelos crimes de desacato a servidor público e ameaça, mas ele continuou preso porque responde ao crime de homicídio qualificado. A Justiça aguarda oferta da denúncia quanto aos crimes que ele teria praticado contra a agente.

Kassio Mangas foi exonerado do cargo que tinha no governo estadual. Ele atuava no Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

 

Luta por respeito

Quando o crime completou 30 dias, o pai de Emily, o técnico de informática Eudes Rosa Monteiro, declarou em entrevista que “os homens têm que mudar”. Ela era a única filha biológica dele. Na época, ele relatou que a família ficou mais unida e, apesar de abalada, também engajada para mudar as coisas e ir em busca de justiça.

Prova disso foi a lei nº 2.404, publicada no Diário Oficial do Estado no dia 6 de junho, que institui o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, celebrado anualmente em 12 de agosto, e que determina a promoção de debates, seminários e outros eventos relacionados ao feminicídio.

Nesta segunda-feira, Macapá terá alguns eventos que marcam um ano do assassinato de Emily Miranda. O auditório do MP, no bairro Araxá, vai receber um seminário com o tema “Combate ao Feminicídio no estado do Amapá a partir das 8h. O evento coloca em debate a violência contra a mulher e o feminicídio pelos diferentes setores da sociedade e terá uma sequência de palestras.

Uma missa em memória à cabo acontece às 19h, no Santuário de Fátima, no bairro Santa Rita, na Zona Central da cidade.

Além disso, pela segunda vez, familiares e amigos de Emily mobilizam uma ação solidária. São arrecadados produtos de higiene feminina, fraldas infantil e geriátrica, produtos de limpeza, alimentos não perecíveis ou dinheiro.

As doações serão doadas à Casa Abrigo Lar Bethânia, que atende meninas de 10 a 17 anos em situação de risco social, e também à Casa da Hospitalidade, ambas em funcionamento em Santana, a 17 quilômetros da capital.

As doações podem ser entregues na recepção do BPRE, localizado Alameda Amapá, nº 1002, conjunto Cabralzinho, até as 10h, e na Igreja Santuário de Fátima localizada na Avenida Profª Cora de Carvalho, no bairro Santa Rita, até às 19h. Mais informações podem ser obtidas através do contato (96) 98401-2072.

O pai de Emily reforçou que, apesar da dor profunda, a morte dela aumentou o alerta para os casos de feminicídio e de violência doméstica, que poderão ser evitados com busca de ajuda.

“Os homens têm que respeitar as mulheres e o ‘não’ delas. Têm homens que se acham donos das mulheres. O homem é tão egoísta que não vê que estamos na terra por causa delas. Temos que estar sempre agradando as mulheres. Saber receber um ‘não’, porque um ‘não’ você reconquista depois. Quando esse pensamento mudar, o feminicídio reduz no Brasil”, finalizou Eudes.

Em 2014, a cabo Emily participou de uma simulação de um assassinato na Praça da Bandeira, que causou bastante repercussão em Macapá na época. Na encenação, ela foi morta pelo marido, que matou também o amante e se suicidou em seguida.

 

Fonte: https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2019/08/12/caso-cabo-emily-crime-completa-um-ano-e-sem-data-para-julgamento-de-soldado-no-ap.ghtml

Eudes e Aldineia, pai e mãe de Emily Monteiro, seguram bandeira em homenagem a filha — Foto: John Pacheco/G1

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