Morre jovem mãe com 228 quilos 



Glenda estava em tratamento com gordura mórbida, mas foi traída por um ataque de coração  

 

Maria Glenda Amanajás, 23 anos, que padecia de gordura mórbida, alcançando 238 quilos, sem diagnóstico médico preciso, apesar de ter sido internada uma semana no Hospital de Emergência de Macapá e tido várias passagens por UPAs e UBSs da capital, sempre com falta de ar, morreu sábado, 10 de outubro, de parada cardíaca.  

O tio de Glenda, pedagogo Claudenil Vales Gurjão, informou que a jovem até aos 18 anos de idade levava vida normal com peso condizente ao corpo e à estatura. Daí pra cá vinha continuamente ganhando massa, atingindo, até a manhã de 5 de outubro, a incrível marca de 238 quilos, ao dar entrada para tratamento no Ana Pires Spa e Restaurante, no centro da cidade, transportada por uma equipe do Corpo de Bombeiros. 

 Claudenil Gurjão informou também que a família e amigos de Glenda optaram pelo Ana Pires Spa e Restaurante indicados por pessoas que com gordura mórbida e outras doenças já foram curadas no estabelecimento que adota tratamento natural, nutrindo os pacientes com alimentações vegetariana e vegana. 

A especialista em medicina natural e trufoterapeuta Ana Pires, a quem coube o tratamento de perda de peso de Maria Glenda, desaconselhava a família da jovem a autorizar uma cirurgia bariátrica, pelo menos naquele momento, mas dizia, com confiança, que o tratamento natural poderia reduzir o peso da paciente a parâmetros de uma existência saudável. 

Casada e mãe de uma criança de dois anos, Maria Glenda Amanajás era brandamente autista, distúrbio que também afeta o esposo, chamado Nil. Ainda não foi auferido se a criança do casal também é afetada pelo transtorno. No entanto, apresenta alguns sintomas do mal.  

A paciente do Ana Spa e Restaurante era de condições modestas, sem recursos para custear o tratamento. Por causa desta situação, pedia ajuda da sociedade ao mesmo tempo em que corria uma rifa para conseguir dinheiro ou o quê precisasse no enfrentamento da doença. 

 

Vida 

Maria Glenda Amanajás era filha única de Leonides e João Luiz Oliveira. Sempre foi tratada, pelos pais, com as atenções carinhosas características a quem é o único mimo de casa. Aos 17 anos de idade, ela passou a ter também as atenções do marido Nil, Jocenil dos Santos Palmerim, homem carinhoso com o qual teve a filha Ayla Vitória. 

Sobre o esposo, Glenda dizia que Nil era um companheiro que dificilmente uma mulher encontraria. ”Eu o amo demais; até me limpar ele me limpa. Não imagino deixá-lo sequer um segundo”, dizia a jovem que se comunicava fluentemente, gostava de ler e de ficar antenada nos acontecimentos mundiais, através da internet, e pensava voltar aos estudos quando tudo passasse. Naquele momento não tinha ido para a escola cursar o primeiro ano do ensino médio. 

Maria Glenda perdeu a mãe quando Ayla Vitória tinha apenas 19 dias de nascida. A partir daí a vida passou a não ter mais sentido para ela. Entrou em profunda depressão. Uma depressão solitária, sem falar do problema até mesmo para o marido e muito menos procurar cura na medicina. Por várias vezes tentou matar-se ingerindo veneno para rato ou esfaqueando-se. 

A depressão levou a jovem a comer por compulsão – micos, chocolate, frituras e outras ‘bombas’ quase sempre acompanhados de sucos artificiais e refrigerantes. E começou a ganhar peso. Em meio ao martírio por qual passava Glenda foi descoberta querendo se matar.  A descoberta foi feita pelo esposo. 

Nil teve um choque. Então, passou a pensar numa maneira de ajudar a esposa a tirar o foco da morte. Foi rápido. Trabalhou em cima dos sentimentos de Maria Glenda. Mostrou a ela que caso se fosse, quem poderia tratar de Ayla Vitória, a filha querida. Isso foi uma ducha de água fria sobre ela. 

Já no Ana Pires Spa e Restaurante, a jovem com peso muito acima do normal lamentava ter tentado tirar a própria vida, e aos prantos falava da pequena Ayla: “Foi pensando nela que tirei de mim a vontade de morrer. Ela também me tirou da depressão. Eu a via ali chorando; minha mãe já tinha ido, e se eu me matasse, quem cuidaria da minha menina com carinha de anjo, e tudo foi amenizando a minha dor”. 

Falar em anjo, Glenda também citava duas outras pessoas como importantes no seu processo de sobrevivência: Geovana Magave e Reginete. A primeira, uma vizinha que a procurou quando não mais a viu passando diariamente pela frente de sua casa, e dela a tratou, acompanhando-a até o instante da morte; a outra, sua dedicada cuidadora.  

O marido confirmava a descrição da esposa, acrescentando que diariamente policiava a compulsão dela por comida, mas Glenda sempre conseguia enganá-lo, chegando a pedir guloseimas pelo delivery, principalmente quando o pai dela, outro “policial”, dormia. Até que quando viu que não poderia continuar com a comilança, ela pediu socorro, sugerindo entrar em dieta. 

Nil contava que Glenda chegara a fazer certa dieta à base de verduras e legumes. Mas nunca parara de degustar coxinha e outros salgados com refrigerante. Foi então que surgiu a oportunidade de ser tratada no Ana Pires Spa e Restaurante, onde ao morrer, com cinco dias de internada, já perdera em torno de dez quilos. 

A esperançosa Maria Glenda Amanajás pereceu levando com ela uma existência cheia de amor. Foi embora com esse que é o mais sublime dos sentimentos, mas não soube afastar-se do vício da gula provocado, supõe-se, por uma depressão originada pela morte da mãe. Com isso, ganhou muito peso. E quando lutava em tratamento contra a gordura mórbida, foi atacada pelo músculo cardíaco, que quase sempre é fatal para quem não se acostuma com alimentação saudável. Uma pena!  

Que Deus cubra a saudosa Glenda de glórias no Céu. 

 

Texto Douglas Lima / Foto: Arquivo pessoal/Família

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