Amapá Digital | Sexta-Feira, 08 de novembro de 2024.
Fruta substitui pedras na encenação que conta a expulsão de soldado mouro pelos cristãos; Mazagão Velho celebra a festividade há 247 anos.
A Festa de São Tiago, realizada na Vila de Mazagão Velho com o apoio do Governo do Amapá, envolve toda a comunidade para a encenação a céu aberto da história de fé, que conta a aparição de Tiago como um soldado anônimo que lutou bravamente ao lado do povo cristão contra os mouros e garantiu a vitória.
O primeiro episódio que narra a batalha entre mouros e cristãos, iniciou às 12 horas em ponto desta quinta-feira, 25, com a passagem do "Bobo Velho", o espião mouro descoberto e expulso a pedradas, segundo a história. Ele é representado pelo professor Elton Jacarandá, de 37 anos.
Jacarandá é um dos cavaleiros selecionados para viver o personagem. Ele conta que para ser um dos três cavaleiros escolhidos, precisou dominar técnicas de montaria, ter preparo físico e usar roupas específicas.
"Para ser o Bobo Velho, passamos por todo um preparo que vem desde a nossa infância, pois praticamos a montaria desde criança. Além disso, selecionamos os cavalos mais velozes e fazemos o treinamento para o dia do espetáculo, que nos exige muita técnica e agilidade", descreveu o professor.
Elton Jacarandá, cavaleiro escolhido pra representar o Bobo VelhoFoto: Lidiane Lima
Nas ruas da vila, o Bobo Velho faz três passagens em velocidade máxima, que duram em média, 20 segundos. Cada passagem é representada por um cavaleiro diferente, que mantém a identidade em sigilo até o ato da encenação.
Para realizar o trajeto, eles utilizam roupas específicas de montaria, como coletes e capacetes por trás das máscaras, pois durante o ato, a população atira bagaços de laranja que simbolizam as pedras. Tudo para encenar o momento da história em que o espião mouro é descoberto e expulso a pedradas.
FOTOS: missa celebra a fé do povo de Mazagão Velho no Dia de São Tiago
Moradores preparam os bagaços de laranja para jogar no Bobo VelhoFoto: Lidiane Lima
Antes do espetáculo, para interagir com a cena, a população compra as laranjas, consomem o suco e guardam o bagaço para esperar a passagem do cavaleiro.
O aposentado Francisco Pinheiro, de 66 anos, é um dos moradores que espera ansiosamente pelo momento. Ele aproveitou para comprar duas sacolas cheias da fruta para distribuir entre a família e os visitantes.
"Esse é o momento que mais gosto do teatro, e meus filhos e netos amam participar. Então vim logo aqui comprar as laranjas, fazer um suco pra refrescar e já aproveitar o bagaço para atirar nesse tal de bobo velho", brincou, animado.
Francisco Pinheiro comprou duas sacolas de laranjas para aguardar o Bobo VelhoFoto: Lidiane Lima
Após esse primeiro ato, o teatro segue com a encenação da tão aguardada batalha entre Mouros e Cristões. Trazida da África no século 18, a Festa de São Tiago remonta à fundação da Vila de Mazagão Velho pela Coroa Portuguesa, no ano de 1770.
Em Mazagão Velho, as batalhas entre mouros e cristãos começaram a ser encenadas em 1777, como forma de resgatar a memória da “Mazagão original”, uma colônia portuguesa no Marrocos desativada e transferida para o Amapá.
Atualmente, a tradição movimenta a Vila de Mazagão, em 12 dias de programação, que inclui a parte religiosa, cultural (encenações teatrais), festas dançantes, além de atrações artísticas durante o dia, no balneário às margens do rio Mutuacá.
Foto: Lidiane LimaFoto: Lidiane LimaFoto: Lidiane LimaFoto: Lidiane Lima
Por Jamylle Nogueira
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