Síndrome de Burnout (Síndrome do Esgotamento)
Tive essa semana a grata satisfação de participar de uma palestra no auditório do CIOSP de Santana sobre saúde mental proferida pela psicóloga chefe da divisão psicossocial da Polícia Civil, dra. Gedilma Motta, dirigida aos valorosos e combatentes policiais civis (delegados, agentes e escrivães).
A Sindrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio de caráter depressivo cuja causa está intimamente ligada à vida profissional. O transtorno está registrado no grupo 24 do CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) como um dos fatores que influenciam a saúde ou o contato com serviços de saúde, entre os problemas relacionados ao emprego e desemprego.
Os sintomas são exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade.
A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho. Esta síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes. Profissionais das áreas de educação, saúde, assistência social, recursos humanos, agentes penitenciários, bombeiros, policiais, juízes, defensores públicos, promotores e mulheres que enfrentam dupla jornada correm risco maior de desenvolver o transtorno.
O nome embora sugira uma origem francesa, na verdade é a junção em inglês de "burn" que quer dizer queima e "out" exterior.
A Síndrome de Burnout também pode acontecer quando o profissional planeja ou é pautado para objetivos de trabalho muito difíceis, situações em que a pessoa possa achar, por algum motivo, não ter capacidades suficientes para os cumprir.
O estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. A síndrome se manifesta especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso.
Essa síndrome pode resultar em estado de depressão profunda e por isso é essencial procurar apoio profissional no surgimento dos primeiros sintomas.
Seus principais sintomas são nervosismo, sofrimentos psicológicos e problemas físicos, como dor de barriga, cansaço excessivo e tonturas. O estresse e a falta de vontade de sair da cama ou de casa, quando constantes, podem indicar o início da doença.
Outros sinais que podem indicar a Síndrome de Burnout são cansaço excessivo físico e mental, dor de cabeça frequente, alterações no apetite, insônia, dificuldades de concentração, sentimentos de fracasso e insegurança, negatividade constante, sentimentos de derrota e desesperança, sentimentos de incompetência, alterações repentinas de humor, isolamento, fadiga, pressão alta, dores musculares, problemas gastrointestinais e alteração nos batimentos cardíacos.
Inicialmente esses sintomas surgem de forma leve, mas tendem a piorar com o passar do tempo e por isso as pessoas acham que pode ser algo passageiro, mas pode ser o início da Síndrome de Burnout.
Cumpre às empresas e órgãos públicos, no meu ver, estar sempre atento para evitar problemas mais sérios e complicações da doença, disponibilizando profissionais das áreas de psicologia e psiquiatria, pois é fundamental buscar apoio profissional assim que notar qualquer sinal.
Durante a palestra, pude interagir com a palestrante e com o grupo de policiais, trocando experiências, mormente em face da minha atuação como promotor de justiça e professor universitário por mais de 20 anos, justamente duas das profissões catalogadas como as de grande incidência do transtorno.
Ocorre que as pessoas não buscam ajuda médica por não saberem ou não conseguirem identificar os sintomas e acabam negligenciando a situação sem saber que algo mais sério pode estar acontecendo.
Vivenciei durante minha vida profissional tragédias (até homicídios) entre colegas de trabalho senão situações conflituosas que na verdade eram apenas a ponta do iceberg dessa doença.
O tratamento da Síndrome de Burnout é feito basicamente com psicoterapia, mas também pode envolver medicamentos (antidepressivos e/ou ansiolíticos), bem como as mudanças nas condições de trabalho e, principalmente, mudanças nos hábitos e estilos de vida, como atividade física regular e os exercícios de relaxamento que devem ser rotineiros, para aliviar o estresse e controlar os sintomas da doença.
Se não tratada, os sintomas se agravam e incluem perda total da motivação e distúrbios gastrointestinais e nas situações mais graves, a pessoa pode desenvolver uma depressão ensejando até mesmo a internação para intervenções médicas.
A melhor forma de prevenir a Síndrome de Burnout são estratégicas que diminuam o estresse e a pressão no trabalho. Deve a pessoa ter condutas saudáveis que evitem o desenvolvimento da doença e é importante o paciente definir pequenos objetivos na vida profissional e pessoal, participe de atividades de lazer com amigos e familiares, faça atividades que "fujam" à rotina diária, como passear, comer em restaurante ou ir ao cinema, evitar contato com pessoas "negativas", especialmente aquelas que reclamam do trabalho ou dos outros, conversar com alguém de confiança sobre o que se está sentindo, fazer atividades físicas regulares, evitar consumo de bebidas alcoólicas, tabaco ou outras drogas, porque só vai piorar a confusão mental e principalmente não se automedicar.
O descanso adequado com boa noite de sono (pelo menos 8h diárias) é outra conduta muito recomendada para prevenir a Síndrome e, enfim, é imprescindível o equilíbrio entre o trabalho, lazer, família, vida social e atividades físicas.
A brilhante palestrante enfatizou que é importante no âmbito do trabalho o profissional ter reconhecimento tanto dos chefes como dos colegas, ou seja, um “feedback” positivo, assim como prêmios para as pessoas que foram úteis e que realmente façam a diferença.
A falta de cooperação dos colegas de trabalho foi identificada em estudos da área de psiquiatria e psicologia ocupacional como uma das causas mais nocivas no ambiente de trabalho, gerando desgastes porque o clima de cooperação é algo protetor e sua ausência suga energia recíproca.
Pessoas muito competitiva e aquelas que têm excesso de perfeccionismo, características eminentemente individuais, quando não dosam isso e não têm um autocontrole, leva a pessoa a se focar no trabalho de forma mais intensa e vai afastando as questões sociais em torno delas, afirmou a palestrante. E são justamente essas pessoas que têm o maior risco de desenvolver a síndrome de Burnout.
A falta de sensação de propósito no trabalho é outra geratriz do problema. Para a psicóloga Gedilma Motta, é importante para o profissional ter a sensação de que o seu esforço é útil no mundo. O ser humano precisa ser estimulado a ter esse sentimento de que está fazendo algo de bom na sociedade em que vive.
Isso é uma proteção para o indivíduo porque quando não percebe a diferença que faz e sente que seu trabalho está distante de seus objetivos, gera um fator que “suga” suas energias, levando ao Burnout.
Ocorre que a vida por si só é um estresse e nós não conseguimos controlar todo tempo esses ambientes. Para o combate, é importante o que os pesquisadores chamam de descanso ativo; termos momentos de relaxamento, não estar fazendo nada, assistindo filmes, deitado na cama ou no sofá. Mas pessoas que só ficam deitadas tendem a se sentir cansadas quanto retornam ao trabalho.
A palestrante citou que grandes empresários e pessoas bem sucedidas têm “hobbyes” ativos, escalam montanhas, fazem maratonas, praticam esportes às vezes até radicais. Reconhece a profissional que é muito difícil porque após o trabalho o corpo está muito cansado, mas é importante a atividade física e logo o indivíduo sente a diferença, sem olvidar a importância da qualidade do sono que aumenta automaticamente a produtividade.
A alimentação é outro fator importante. O bolo alimentar deve ter características desinflamatórias do cérebro, evitando açúcar em excesso e produtos com gordura trans ou saturada, privilegiando alimentos com ômega 3, peixes, grãos (cereais) etc.
Chega ser alarmante o percentual de 30% dos trabalhadores (1 a cada 3) apresentar sintomas do quadro relacionado à estafa mental (Burnout) em algum momento da sua vida.
O Burnout tem vários estágios. No início, numa faixa que a psicóloga denominou de cinza, aparecem os sintomas de tédio e aflição; na faixa verde, o indivíduo fica irritado e ansioso, agressivo com os colegas e equipe de trabalho, ocorrendo também ser ríspido no ambiente familiar, sem o mínimo de paciência. Por fim, vem a faixa vermelha com fadiga, exaustão, apatia, estresse e o colapso com o esgotamento físico e mental.
Isso ocorre quando o trabalhador fica várias horas a mais por dia, ultrapassa sua carga horária deixando de fazer atividades de sua rotina, como academia, sair com amigos para um jantar ou bate-papo, deixa de ter vida social, ser lúdico com os filhos e animais de estimação etc.
Muitas das vezes, o trabalho consome 90% do tempo, o que caracteriza o hiperfoco no trabalho. Alguns sintomas podem ser a palpitação, falta de ar, angústia no peito, degenerando para falta de concentração, perda de memória, esquecimento das coisas, lentidão de raciocínio e passa a ser apático, não achando graça nas coisas e até mesmo as piadas soam sem sentido.
Nessa fase, o indivíduo não se importa com nada, sente tristeza e necessidade de isolamento e comporta impulsos até para aliviar esses sentimentos. Equivocamente, é possível as pessoas usarem o álcool de forma abusiva, drogas, comer muito, compulsão por compras, causando uma dependência desse comportamento em busca de ter prazer nessas esferas.
Os policiais vivem em constante estresse, em enfrentamento com pessoas de má índole, marginais. O próprio uso de armas já é um fator de estresse significativo.
Infelizmente, nossas instituições não dão a devida atenção aos seus profissionais que muitas vezes não tem noção de que estão doentes e o remédio que os gestores ministram são as sindicâncias e processos administrativos disciplinares. Isso ocorre porque até mesmo o dirigente não tem noção do problema e da síndrome de Burnout.
Outrossim, a polícia (militar ou civil) sabe quem são as laranjas podres do cesto e deveriam, no meu entender, submeter esses profissionais de forma preventiva ao serviço psicossocial ao menor indício do sintoma, evitando tragédias sociais e pessoais.
Parabéns à Polícia Civil do Amapá pela iniciativa e que sirva de exemplo a todos os órgãos.