Me quer bem ou não?

Me quer bem ou não?


Rabi Moisés Leib ensinava: “Como se deveria amar é algo que eu aprendi com um camponês. Ele estava sentado numa taberna com outros camponeses e estava bebendo. Ficou calado por muito tempo, mas, de repente, animado pelo vinho, perguntou a um dos homens sentados com ele:

 - Me diga: você me quer bem ou não? O outro respondeu:

- Sim. Te quero muito bem. Mas o camponês replicou:

- Você diz que me quer bem, mas não sabe do que eu preciso. Se me amasse de verdade, deveria sabê-lo. O outro não tinha mais nada para dizer e todos caíram no silêncio como antes. No entanto, eu tinha entendido. Conhecer as necessidades dos outros e carregar o peso do seu sofrimento, este é o amor verdadeiro. Aquele homem não tinha aprendido aquilo na escola e sim na taberna, no calor do vinho, quando as emoções transbordam e as palavras saem sem controle”.

No evangelho de João, deste Quinto Domingo de Páscoa, encontramos o bem conhecido mandamento novo de Jesus: “amai-vos uns aos outros” e, em seguida, as palavras: “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34). A novidade, portanto, não está tanto no amor em si, mas no jeito e na radicalidade do amor com o qual Jesus nos amou. Além disso, essa “nova” forma de nos amar uns aos outros será o sinal compreensível e inconfundível dos discípulos dele. Como cristãos seguidores do Senhor Jesus temos, assim, duas grandes responsabilidades: a primeira é obedecermos ao mandamento e, portanto, praticarmos o amor fraterno e a segunda é que, se falharmos com esse amor, será muito difícil reconhecer os verdadeiros discípulos dele. Não adianta fazer declarações maravilhosas de amor a Jesus ou de fé nele. O que vale mesmo e que deve distinguir os cristãos é o amor fraterno. Não que as palavras de fé, as explicações, escritas ou faladas, as rezas, curtas ou intermináveis, sejam inúteis, mas se às palavras bonitas de fé não corresponde o compromisso da vida, elas ficam somente palavras.

Nós cristãos, antes de sermos seguidores de um Mestre cheio de sabedoria, acompanhamos as pegadas de um Crucificado, de alguém que foi fiel até o fim à sua mensagem e a selou com o seu próprio sangue. Por sua vez, o Divino Pai confirmou a total entrega do Filho, feito homem por amor a toda a humanidade, ressuscitando-o dos mortos e dando-lhe “um nome que está acima de todo nome” (Fl 2,9). O modelo de amor que está à frente dos cristãos sempre será o do próprio Jesus e de todos aqueles que gastaram as suas vidas na busca do Reino de Deus e da sua justiça (Mt 6,33). De fato, a existência humana de Jesus foi aquela de uma vida totalmente doada a quem o procurava. Ele foi o primeiro que praticou o que havia anunciado na sinagoga de Nazaré no início da sua vida pública; sobretudo, entre outras coisas, o “anúncio da boa notícia aos pobres”. Um “evangelho” feito de palavras e ações, exortações e sinais, explicações e exemplos.

Tudo isso nos espanta? Será que o seguimento de Jesus é tão exigente? Nunca Jesus disse que caminhar com ele seria algo fácil ou banal. No entanto se é verdade que nos deixou a medida alta do amor – “como” ele nos amou – igualmente, porém, ensinou-nos que a grandeza e o valor do amor está no próprio compromisso de amar, com a condição que amemos para responder às necessidade do outro e não para a nossa satisfação ou gratificação. Todos somos carentes de amor, de atenção, de proximidade. Somente se reconhecemos o amor que já recebemos e praticamos nas nossas famílias, nas amizades, no companheirismo, na solidariedade e na generosidade, conseguiremos agradecer e compreenderemos as necessidades dos outros. Se não percebermos a nossa pobreza de amor, dificilmente saberemos doar desta nossa pobreza. As necessidades de cada ser humano são parecidas com as nossas. Todos gostamos de pessoas sorridentes, amáveis, capazes de escutar, prontas para ajudar. Faltam semeadores de paz, comunhão e confiança. Todos precisamos muito amar e ser amados. Por isso, Jesus nos amou tanto, sabia muito bem o que nos faltava. 



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