Pássaro conselheiro

Pássaro conselheiro


Afastado das aldeias, morava um velho sábio. Muitas pessoas gostavam de andar por lá e escutar o velho falar. Um dia, uma criança disse para ele:

 - Tu dás conselho a todas as pessoas que aqui vêm. Tu sabes falar sobre qualquer assunto. Mas me diga uma coisa: e tu mesmo, quando precisas de um conselho, a quem procuras? O sábio respondeu:

 - Eu tenho um pássaro. Eu pergunto a ele. E ele me ajuda bastante.

 Desde então se espalhou em toda a região a história do pássaro conselheiro que vivia com o velho sábio. Porém, um dia, um grupo de crianças tomou coragem e perguntou ao sábio sobre o tal do pássaro.

 – Então vocês querem ver o pássaro? O velho entrou na choupana e trouxe um pássaro de madeira esculpido toscamente. As crianças olharam aquilo e perguntaram se tinha certeza de que era aquele o pássaro que dava respostas. O velho sábio respondeu: 

- Eu não disse que o pássaro dá respostas. Eu só disse que este pássaro me ajuda bastante, pois a ele eu faço as perguntas. Faço muitas perguntas. E se eu souber fazer bem as perguntas, já é uma etapa importante na busca das respostas.

No evangelho deste 12º Domingo do Tempo Comum, encontramos a versão de Lucas das bem conhecidas perguntas de Jesus aos discípulos: “Quem diz o povo que eu sou?” e “E vós, quem dizei que eu sou?”. Voltaremos a encontrar essas perguntas na versão de Mateus na próxima Solenidade de São Pedro e São Paulo. As respostas e a conversa seguinte podem ser um pouco diferentes, mas o que vale mesmo são as perguntas. Com efeito, podemos acreditar que se elas ficaram nos evangelhos é porque aqueles homens e mulheres, que queriam abraçar a fé cristã, deviam conhecer bem e não titubear nas respostas antes de serem batizados. Fica claro, também, que nem as perguntas de Jesus e nem as respostas dos discípulos são um questionário que se deve acertar para passar numa prova escolar ou num teste de aptidão psicológica. O que está em jogo é a fé e a vida das pessoas que encontraram no Senhor Jesus “O Cristo de Deus”, o Ungido, o Prometido tão Esperado. Muitos de nós, que nos declaramos cristãos, sabemos as respostas certas sobre Jesus, mas não estaríamos dispostos a mexer um dedo para defendê-lo ou explicá-lo a quem o desprezasse ou simplesmente o ignorasse. Ser cristãos de verdade é conhecer a palavra dele, avaliar a vida e a morte, o bem e o mal, o mundo, as riquezas e, sobretudo, amar e servir os nossos irmãos pobres e sofredores, com o mesmo coração dele.

Até que a resposta “O Cristo de Deus” não tomar conta dos nossos pensamentos, nortear as nossas decisões, iluminar o nosso caminho,  pouco ou nada nos serve repetir palavras decoradas, mas vazias de sentido para nós. É isto que significam as palavras “renunciar a si mesmo”. De fato, quantos de nós, organizamos a nossa vida sobre valores e interesses por nós mesmos escolhidos, o nosso bom senso, a nossa prudência, achando-nos donos da verdade, sábios conhecedores dos mais profundos segredos da vida. Quantos acompanhamos sem pensar as modas, as novidades badaladas, as promessas, os medos e as ameaças daqueles que achamos serem os que nunca erram porque “todos fazem assim”. “Tomar a cruz” com Jesus significa ir na contramão, desmascarar as ilusões dos que buscam a felicidade no lucro e no bem-estar individual, esquecendo a própria transitoriedade humana, desprezando a fraternidade e a alegria do bem comum construído em conjunto. Queremos salvar a nossa vida escolhendo caminhos que geram morte, destruição do planeta, gerando milhões de seres humanos famintos e deslocados, sem pátria, sem casa, sem água, sem trabalho, sem educação. Pensamos em ficar ricos e estamos ficando cada vez mais pobres, porque perdemos o gosto da solidariedade, do serviço generosos, da gratuidade dos gestos, dos saberes partilhados, da vida doada como Jesus nos deu o exemplo.

 O “pássaro conselheiro” está dentro de nós, é a nossa consciência. Só precisamos ter a coragem e a honestidade de nos perguntar como estamos gastando a nossa vida e todos os dons que de graça recebemos: os dias que passam, a sede de amor para dar e receber...Em tudo isso terá lugar ainda para “O Cristo de Deus”? 



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