ORGANIZAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS: MATRIZ
O método científico-tecnológico prevê, em muitos casos, a necessidade de se elaborar questões denominadas ambientais. O que caracteriza esse tipo de problema de pesquisa é a constatação de que as tecnologias podem gerar externalidades, impactando negativa ou positivamente pessoas ou coisas, ou podem ser afetadas pelo ambiente. Essas externalidades podem ser planejadas, enquanto resultados pretendidos pelo artefato tecnológico em funcionamento, como é o caso da aplicação de raios X e ultrassons na área médica, ou indesejados, como é o caso da aplicação de mercúrio para a separação do ouro de outras impurezas, que contamina os mananciais hídricos e afeta a saúde humana. O que essas questões procuram conhecer é quais são os impactos que a tecnologia ou algum de seus componentes causa sobre o seu ambiente de operação. Para que esse objetivo seja alcançado, algumas questões-chaves precisão ser respondidas para a confecção da matriz de dados: 1) quais são os impactos ambientais, 2) como esses impactos acontecem e 3) por que eles ocorrem. Algumas vezes essas questões podem ser formuladas sobre os elementos estruturais e etapas processuais de geração tecnológica; contudo, na maioria das vezes é necessário que se faça uma nova investigação sobre o protótipo, especialmente na etapa de teste/reteste, ou sobre a tecnologia finalizada. Vejamos como a matriz pode ser elaborada.
Uma tecnologia é o encapsulamento de conhecimentos em um artefato com a finalidade de resolver determinado problema. Para isso, todas as tecnologias agem causando impacto sobre o ambiente. Causar impacto, portanto, é da própria natureza de qualquer tecnologia. Por exemplo, um produto educacional como um Massive Onlice Opened Course (Curso Online Aberto e Massivo) causam impacto sobre o ambiente fazendo com que mente, cérebro e corpo humanos aprendam, da mesma forma que a temperatura ambiente causa impacto sobre os termômetros, tecnologias que medem justamente essa variação. Esses impactos são todos planejados com o máximo de precisão possível, especialmente naquelas tecnologias que, aparentemente, se sabe que os impactos que causarão no ambiente não poderão ser considerados nocivos e nem sofrerão causações que lhes comprometam o funcionamento.
Acontece, contudo, que muitas tecnologias são feitas com elementos, componentes ou matérias-primas com elevada potencialidade nociva. Medicamentos são exemplos clássicos, da mesma forma que outras tecnologias que manuseiam elementos químicos. É fundamental, portanto, que essas externalidades sejam mapeadas da forma o mais exaustiva possível. Na prática, é como fazer uma lista de supermercado. Essa lista pode começar pelos impactos gerados pelos próprios componentes da tecnologias e suas matérias-primas, avançam para o campo dos componentes, partes e finalmente para o próprio artefato em sua totalidade em relação ao ambiente, tanto quando em funcionamento quanto em repouso. Pode-se até adotar até a EAP e em cada componente ser adotada a notação de externalidades negativa e positiva e os níveis nenhum, mínimo, médio, alto e elevado. Essa primeira matriz poderia ser chamada de matriz de riscos, como fazem, por exemplo, os hospitais.
A segunda matriz é decorrente da primeira, cuja preocupação é anotar com precisão a externalidade que precisa ser retificada. Anotar com precisão é apenas dizer exatamente o que acontece. É o que se diz, por exemplo, em “o consumo de energia da tecnologia está 35% além do esperado” ou simplesmente “o componente B está exalando um odor enauseante”. Esse procedimento é necessário para que as próximas duas matrizes possam ser elaboradas de forma consistente. É recomendável que na anotação da externalidade seja identificado o elemento, componente e parte da tecnologia que a origina, quando não for efeito do funcionamento do próprio artefato tecnológico, e que aspecto da realidade está sendo impactado, que pode ser alguma parte da tecnologia, pessoas e coisas do seu ambiente de operação.
Com base nas anotações da segunda matriz, a próxima etapa da organização dos dados das questões ambientais é a elaboração de uma matriz processual das externalidades. Esse é um nome mais sofisticado para a preocupação de gerar explicações sobre como a externalidade acontece, quais são suas etapas. Por exemplo, para a desistência dos alunos que tentaram realizar determinado treinamento foi anotado que “apenas 10% terminavam a terceira etapa e apenas 1% obtinha aprovação”. Analisando-se aquela matriz percebeu-se que a quantidade de leitura era muito elevada com textos cujas fontes eram muito pequenas, assim como extremamente repetitivos, enfadonhos e entediantes. Além disso, o tempo necessário para a realização das atividades era muito reduzido. Essas descobertas permitiram explicar “como” aquelas externalidades aconteciam.
A quarta e última matriz é focada no porquê. O que se busca, aqui, é uma fundamentação sobre por que aquelas externalidades acontecem. São essas explicações que vão permitir, por exemplo, retificar o funcionamento dos elementos, componentes e partes com funcionamento inadequado. Por exemplo, o cérebro humano tem um limite para as leituras determinado pelo tamanho das fontes e quantidade por tempo. Também tem limitações em arquivamento temporário (por exemplo, aulas e discussões teóricas além de 40 minutos são infrutíferas). Ao se mexer nos porquês é readequado o funcionamento disfuncional.
A organização dos dados ambientais é um pouco diferente dos procedimentos adotados para a organização dos dados conceituais, estruturais, processuais, funcionais e relacionais. Na verdade, cada tipo de problema de pesquisa tem suas particularidades que precisam ser conhecidas para que a aplicação do método científico (problema, coleta de dados, organização dos dados e geração da resposta) possa ser adequadamente realizado. Esses procedimentos aumentam em muito a possibilidade de efetividade da tecnologia que se pretende gerar.
Daniel Nascimento-e-Silva, PhD
Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)