Livraria Cultura: O modelo ideal da venda de livros ainda não foi encontrado
Para alívio dos leitores, esperança dos credores e de funcionários com quem a empresa possui débitos trabalhistas, o presidente da Livraria Cultura, Sérgio Herz, afirmou ao Valor Econômico, nesta sexta-feira (10/02), que vai tentar reverter a decretação de falência do grupo em segunda instância judicial. O empreendimento está ativo no mercado há 76 anos.
"Foi tudo uma surpresa. Vamos recorrer da decisão", reafirmou o CEO ao site da Folha de São Paulo. "Eu confio totalmente na recuperação judicial da empresa. Estamos crescendo. Comparando a janeiro do ano passado, a loja do Conjunto Nacional [a principal do grupo localizada em SP] cresceu 60%. A de Porto Alegre, 15%. É um resultado bom", argumentou Sérgio, um dos herdeiros da família Herz de imigrantes judeus que escapou do nazismo na Alemanha, na década de 1940.
O frisson foi tão grande em todo o Brasil com a notícia da decisão judicial que a livraria foi às mídias sociais - nos seus canais oficiais - dizer que as lojas continuam funcionando normalmente.
Mesmo assim, os leitores ficaram reticentes ao ver e saber que algumas prateleiras estavam sendo desmontadas na unidade de SP, especificamente de editoras parceiras da livraria. E também por se considerar que quando ocorre a decretação de falência de uma empresa é sinal de que não há mais possibilidade de reestruturação do negócio
"O que aconteceu de errado para que um patrimônio gigante como a Cultura acabasse assim?", indagou o leitor Amarildo Teixeira, 60 anos, morador de Paraty (SP), entrevistado pelo Estadão ao testemunhar o que se passava na Livraria Cultura.
É como se junto com a desmontagem daquelas prateleiras, também estivesse ruindo o sonho de Eva Herz, matriarca da família, de construir uma livraria para promover o encontro de pessoas com os mais variados interesses.
Mais do que uma livraria, o ambiente se reinventou com espaços multimídias oferecendo aos frequentadores, além de acervo, teatro, auditórios, cafés e eventos gratuitos. Uma sequência de decisões foram tomadas para manter o empreendimento de pé nestas sete décadas.
Ainda assim, com todo esse esforço, a pergunta do leitor estupefato de Paraty continua ecoando: “O que aconteceu de errado?”
Para o mercado editorial não foi surpresa a decretação de falência pelo judiciário paulista uma vez que a crise já vinha se agravando desde que o grupo entrou em recuperação judicial em 2018.
Na entrevista concedida ao Valor, Sérgio Herz pontuou algumas situações que podem ter contribuído para o agravamento da crise no negócio. “O modelo de venda de livros tem que ser reescrito e estamos fazendo isso. Ninguém achou esse modelo ideal ainda”, avaliou.
Ele foi categórico ao afirmar que vai recorrer da decretação de falência: “Não existe como deixar a Livraria Cultura morrer”.
Em sete décadas, a empresa já teve em torno de 15 lojas espalhadas por cidades como Brasília (DF), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Recife (PE), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA). Atualmente, o empreendimento se resume a duas lojas, em São Paulo e Porto Alegre.
Um misto de tristeza e pesar tomou conta de milhares de brasileiros que nutrem algum tipo de vínculo com a leitura ou eventos sediados nas lojas da Cultura. Para muitos, foram momentos marcantes de suas vidas: o primeiro beijo, um pedido de casamento, o primeiro livro ou mesmo passeios aleatórios entre uma atividade e outra.
No meu caso, marcou a minha estreia na área da escrita literária com o lançamento do primeiro livro em que participei como coautora.
Independente dos motivos que levaram a esse quadro atual do empreendimento, leitores, credores e funcionários aguardam ansiosos por um desfecho vitorioso para a Livraria Cultura.
Ao ler esse texto, ninguém imagina que essas palavras foram escritas sob lágrimas de lamentação.
Desejo que os vendedores de livros encontrem o modelo ideal desse tipo de negócio para não termos mais notícias com essa… Vida longa às livrarias!
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Maiara Pires
Jornalista, Escritora e Ghostwriter
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