Senhor, dá-me dessa água (Jo 4,15)    

Senhor, dá-me dessa água (Jo 4,15)    


Nos próximos três domingos de Quaresma, deste ano, deixaremos o evangelho de Mateus para ler três longos trechos do evangelho de João. Não é um capricho de quem planejou as leituras dominicais. Esses evangelhos, riquíssimos em suas mensagens, são os escolhidos para os ritos dos “Escrutínios” e “Exorcismos” que os Catecúmenos devem fazer durante a Quaresma antes de receber o Batismo na noite de Páscoa. Como era costume, a maioria de nós deve ter sido batizada bem pequenina e, portanto, não deve ter lembrança daquele momento. Os nossos pais e padrinhos decidiram por nós, convencidos de fazer algo certo e muito bom.  No entanto e justamente a Mãe Igreja quer oferecer a todos os que frequentam as liturgias, aos domingos, a oportunidade de “escutar” novamente esses evangelhos. Assim, a cada três anos, podemos nós mesmos avaliar a nossa caminhada na fé, os frutos do Batismo e confirmar a nossa escolha livre e jubilosa de seguir o Senhor Jesus, participando da nossa Igreja-comunidade. Além dessas razões, o Ano Vocacional Nacional nos convida a reavivar o nosso compromisso batismal porque, qualquer seja a nossa “vocação” e a nossa condição social, depois do chamado à vida, deveríamos acreditar que o maior dom que recebemos foi o fato de sermos cristãos, ou seja, de ter encontrado e conhecido Jesus Cristo.

Neste Terceiro Domingo da Quaresma, vamos nos colocar no lugar da mulher samaritana e dialogar com Jesus para ver se chegamos à mesma conclusão dla e dos samaritanos: “Este é verdadeiramente o salvador do mundo” (Jo 4,42). Na beira do poço de Jacó acontece o encontro entre duas sedes: aquela da samaritana, que foi ali para buscar a água para beber e uma outra “sede”, a de Jesus desejoso de ser reconhecido e acolhido por todos além das diferenças religiosas e morais. Com efeito, na frente dele está uma mulher que faz parte de uma crença desprezada pelos judeu e que já teve cinco maridos. Ela demora, mas, aos poucos, vai entendendo. Primeiro percebe que Jesus é “um profeta” (Jo 4,19), depois pergunta sobre o Messias e escuta daquele homem uma extraordinária autoapresentação: “Sou eu, que estou falando contigo” (Jo 4,26). A samaritana esquece o cântaro e volta para a cidade para contar o acontecido, levando consigo uma grande questão que é o passo necessário para alcançar a fé: “Será que não é ele o Cristo?”. Os samaritanos se aproximam de Jesus, escutam as suas palavras e muitos creem.

A página do evangelho da Samaritana diz muitas mais coisas que precisariam ser lembradas e aprofunddas. O que interessa, neste momento, porém, e espero possa ajudar mais alguém, é responder à pergunta: por que esse evangelho é colocado antes do Batismo dos Catecúmenos? Os “Escrutínios” e os “Exorcismos” são uma oração para que aquele que pede o Batismo tenha a força e a coragem de tomar a grande decisão de ser cristão. Terá que renunciar a algumas coisas e acreditar em outras. Talvez, terá que dar um rumo bem diferente à sua vida. Sem essa lucidez, o Batismo corre o perigo de ser reduzido a um costume social tradicional ou a uma imaginária proteção para a criança contra doenças ou maus-olhados. Nesses casos, estamos muito longe da fé cristã. Na prática, se as “sedes” da nossa vida são as do dinheiro, do sucesso, do bem-estar, do comodismo e de tudo o mais de material que empolga a nossa vida e anestesia a nossa consciência, o Batismo não vai servir para muita coisa. A “sede” que Jesus quer satisfazer é a do sentido profundo da nossa existência, ou seja, o desejo e a busca de ter motivações de vida e de compromisso que não nos fechem em nós mesmos, mas nos abram aos irmãos – junto aos quais caminhamos nesta peregrinação terrena – e mais ainda, sede daquela “água” que satisfaz todas as sedes: o Espírito da Verdade que Jesus quer doar aos seus amigos. Somente assim podemos ser os “verdadeiros adoradores” do Pai, filhos amados que colaboram na construção do Reino de Deus já neste mundo. Continuaremos essas reflexões sobre o nosso Batismo com o “cego de nascença” e o retorno de Lázaro à vida.   



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