Folhas e frutos

Folhas e frutos


Disse um velho sábio: “Quem tem palavras, mas não tem obras, é como uma árvore que tem folhas, mas não tem frutos. Contudo, como uma árvore com frutos tem muitas folhas, assim aquele que cumpre boas obras tem também palavras boas”.

No 33º Domingo do Tempo Comum, continuamos a leitura do capítulo 25 do evangelho de Mateus e encontramos a parábola dos talentos, uma das mais conhecidas e comentadas. Lendo-a somos tentados de identificar cada personagem com alguém e os próprios talentos com qualidades e aptidões que, muitas vezes, reconhecemos em nós e nas outras pessoas. Podemos fazer isso e até imaginar que Jesus esteja nos convidando a multiplicar os talentos com uma visão interesseira de negócios lucrativos. Afinal, este patrão-Senhor chama de bons e fiéis os servos que dobraram o patrimônio recebido.

Todas as parábolas correm este risco: ser lidas com o nosso olhar atual, preocupados em manter os nossos pontos de vista. Sem dúvida, a parábola é uma exortação à laboriosidade e não à preguiça e à acomodação. Contudo, a questão que deve chamar mais a nossa atenção é o relacionamento entre o patrão-Senhor e os servos e como eles o reconhecem de maneira tão diferente.

O “homem” que vai viajar entrega os seus bens aos empregados e, dessa forma, manifesta uma extrema confiança neles. Distribui os seus bens “de acordo com a capacidade” de cada um (capacidade, não merecimentos) e não lhes dá nenhuma indicação sobre como devem usar aqueles bens. Por isso é bastante evidente que os três empregados agem livremente, mas, ao mesmo tempo, conforme o que pensam do patrão. Os dois primeiros entendem que foram agraciados com aqueles talentos e se sentem na obrigação de multiplicá-los, reconhecendo assim o valor do dom recebido com total gratuidade e confiança do patrão.

Quando o Senhor volta, eles apresentam o resultado do seu trabalho com a mesma atitude de generosidade, não pretendem e nem reclamam recompensa. É o próprio patrão-Senhor que os elogia e diz que foram fiéis “na administração de tão pouco”, merecem mais confiança ainda. A relação de gratuidade e colaboração entre eles e o patrão continua na participação da alegria daquele Senhor.

Bem diferente é o pensamento do terceiro empregado que é de medo do patrão. Para ele o Senhor é “um homem severo” que colhe onde não plantou e ceifa onde não semeou (Mt 25,24-25). Esse último empregado não acolheu o talento como um dom, nem pensou na confiança do patrão que queria tê-lo, de fato, como parceiro na plantação e na colheita. Simplesmente ele não fez nada e pensou que o patrão, por sua vez, recebendo o talento inteiro de volta, não podia lhe cobrar mais nada. Assim, o servo “mau e preguiçoso” e ainda “inútil”, não participou da alegria do seu Senhor porque, afinal, não o reconheceu como alguém que lhe dava a maior confiança e a maior liberdade para corresponder com criatividade àquela imerecida gratuidade.

Não preciso juntar mais explicações. Talvez a parábola dos talentos seja, afinal, a parábola da nossa vida, de tudo aquilo que somos e temos e que recebemos da bondade de Deus. De maneira especial, como cristãos, quanto e quantas vezes continuamos a pedir a Deus mais coisas, mais bens, mais solução de problemas que nós criamos, como se nunca tivéssemos recebido nada, como se Deus nunca nos tivesse entregue a vida e o planeta no qual passamos os poucos dias da nossa existência.

Quantos talentos desperdiçamos, usamos de forma egoísta e interesseira ou deixamos enterrados por não querer entender a única “cobrança” que o Deus-Pai que Jesus nos fez conhecer nos solicita. Justamente aquela de usar de tantos bens recebidos com tanta variedade, bens materiais e espirituais, para multiplicar a bondade, a solidariedade, a partilha e assim convocar todas as pessoas a participar da alegria do Senhor que nos quer todos irmãos porque todos somos seus filhos amados. Menos palavras inúteis e mais ações então.  Ou mais palavras boas que sirvam para entender, amar e agradecer o único Pai de todos.



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