Praça do Relógio: pesquisa aponta falhas de acessibilidade em praças do Distrito Federal
Estudante de Arquitetura e Urbanismo do CEUB realiza estudo que avalia a necessidade de revitalização do espaço público
Quando se pensa em uma praça pública, vem à cabeça um local de convivência coletiva, espaço para encontros, debates, manifestações, caminho de trabalhadores. A partir de um conceito amplo de acessibilidade e políticas públicas, uma das praças mais populares do Distrito Federal, a Praça do Relógio foi objeto de pesquisa de autoria da estudante de Arquitetura e Urbanismo, do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Alexandra Salomão (27). O projeto acadêmico avaliou a acessibilidade do espaço público e os desafios enfrentados por pedestres que transitam no local, como falta de estrutura, segurança, transporte, trânsito e comércio.
Localizada em Taguatinga/DF, a Praça do Relógio é um dos cartões postais da capital federal, sedia a Administração Regional de Taguatinga e a Estação do Metrô. Um dos locais com a maior movimentação de pessoas do DF, a praça conta com banheiro público aberto das 6h às 22h e um ponto de táxi. Além disso, abriga um presente doado por uma empresa japonesa, um grande relógio. Sustentado por uma coluna de concreto, o relógio, de quatro faces marca as idas e vindas da população e é símbolo da Região Administrativa.
O local, com vocação para ser um ponto turístico da capital do país, enfrenta uma série de problemas estruturais de manutenção, segurança, entre outros. Nesse sentido, a estudante do CEUB Alexandra Salomão, moradora de Taguatinga, decidiu investigar os problemas da praça, elencar os motivos do abandono e segregação aparente, para propor políticas públicas de urbanização para o espaço aos órgãos competentes.
A escolha da cidade de Taguatinga como estudo de caso ocorreu pelo fato de ser um dos primeiros núcleos urbanos do DF, fundado em 1958. De acordo com relatório divulgado pela Codeplan, a cidade possui 212.154 mil habitantes, sendo a terceira RA com maior população do Distrito Federal, atrás apenas da Ceilândia e Samambaia. Sobre os meios de transportes, 52,6% dos deslocamentos para o trabalho são feitos pelo transporte individual, e 57,7% se deslocam por meio de transporte público, ou seja, a maioria da população é pedestre e transita pelas ruas e praças públicas todos os dias.
Para realizar a pesquisa, a acadêmica aplicou a metodologia baseada no índice de caminhabilidade desenvolvido pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) em parceria ao Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), órgão da Prefeitura do Rio de Janeiro, e a Pública Arquitetos em 2016. Baseado em um cálculo, esse índice busca avaliar as condições do espaço urbano para o pedestre. Durante o estudo, a Praça do Relógio foi analisada por seis diferentes categorias: calçada, mobilidade, atração, segurança viária, segurança pública e ambiente.
De acordo com a síntese do resultado do Índice de Caminhabilidade das categorias e indicadores apurados analisados pela aluna de Arquitetura e Urbanismo do CEUB, a Praça do Relógio necessita de medidas emergenciais de revitalização, para garantir a mobilidade e acessibilidade da população. O cálculo aplicado pelo ITPD aponta como “insuficientes” a pavimentação, as calçadas, as travessias, a iluminação e os espaços com sombra e abrigo. Em uma pontuação de 0 a 3, as categorias obtiveram nota insuficiente.
Sobre a dimensão das quadras e distância a pé ao transporte, as notas recebidas foram “bom” e “ótimo”, reforçando o ponto estratégico e a boa localização da praça central. Os fatores que avaliaram a poluição sonora, coleta de lixo e limpeza foram considerados suficientes de acordo com os cálculos aplicados na pesquisa.
Orientador do projeto, o professor de Arquitetura e Urbanismo Sávio Guimarães, explica que a análise reforça a necessidade de reavaliar as cidades por meio de políticas intersetoriais, para que sejam implementadas de maneira mais eficiente medidas que contribuam positivamente na qualidade de vida. Uma cidade vinculada à ideia de sustentabilidade oferece a possibilidade de caminhar com segurança e qualidade, pode apresentar estratégias como fachadas ativas com atividades diversificadas, integração nos modos de transporte, presença de áreas de sombra e ventiladas, ambientes que estimulem o convívio social, a prática de exercícios físicos ou mesmo descanso mental, além de iluminação, limpeza urbana, entre outros atributos, considera o Urbanista.
Estudante do 10° semestre de Arquitetura e Urbanismo, Alexandra Salomão destaca que a pesquisa aponta a necessidade de aumentar o tempo do semáforo para os pedestres, pintar as faixas, implementar rampas para cadeirantes e pessoas com restrição na mobilidade, colocar piso tátil para cegos e melhorar a iluminação. “Reformar as calçadas em áreas como praças, impactam positivamente no comércio. Assim, mais pessoas são atraídas pelo ambiente. Além disso, a população precisa ter uma área para encontros e momentos de lazer. O curso de arquitetura fortalece muito a ideia de pensar nas cidades para pessoas”, explica.
“Sou pedestre, não uso carro e percebo diariamente a dificuldade no caminhar, além disso, Taguatinga é uma das cidades do DF com maior número de idosos. Temos que pensar também em espaços públicos adequados para pedestres, idosos e pessoas com deficiência, que sejam acessíveis, seguros e agradáveis, como um conceito perfeito de praça pública, um coletivo ponto de encontro e espaço de convivência,” arremata Alexandra.