Pesquisas eleitorais manipulam dados?



Sob ataque, os institutos de pesquisa têm sido considerados grandes inimigos do processo eleitoral. A pesquisa de opinião que indica tendências do eleitorado é um retrato que busca apontar possíveis resultados. Os números influenciam o comportamento do eleitor. Por isso, quando indicam um resultado diferente daquele que os candidatos esperam ou quando indicam números diferentes do que ocorre nas urnas são rapidamente descredibilizados.

É verdade que o primeiro turno revelou uma margem de erro maior do que o previsto por parte dos principais institutos de pesquisa do Brasil para as eleições presidenciais. Ipec e DataFolha, por exemplo, apontavam uma diferença de 16 pontos entre Lula e Bolsonaro na véspera do pleito. O resultado da votação, no entanto, foi de cinco pontos percentuais entre ambos, bem acima dos quatro pontos percentuais da margem aceitável de erro entre ambos.

Não faltaram críticas de políticos, analistas, jornalistas e até tentativas de punição aos institutos de pesquisa. Primeiro, o líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), ensaiou a proposição de projeto de lei para punir os institutos de pesquisa e limitar a divulgação dos números no máximo 15 dias antes da eleição. Mais recentemente a Polícia Federal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mobilizados pelo Governo Federal, abriram investigações contra os institutos, processo suspenso pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O candidato a reeleição, Jair Bolsonaro também tem repetido cotidianamente em declarações em redes sociais e na imprensa que os institutos estão mal intencionados.

O que não se falou, no entanto, é que boa parte dos milhares de institutos brasileiros também apresentaram números muito próximos aos resultados da eleição, não apenas para presidente, mas também nos estados. É o caso do instituto Atlas, da Quaest e da Paraná Pesquisas. A IRG Pesquisas, do Paraná, também apresentou dados que corresponderam aos resultados para eleição presidencial, governo estadual e senado, no estado.

O coordenador do IRG Pesquisas, Ricieri Garbelini, aponta a metodologia como o principal fator que afeta a precisão nos dados divulgados pelos institutos de pesquisas. Dentre as questões que induziram ao erro, segundo  o coordenador, está o recorte da amostragem populacional. “Os dados do IBGE não são atualizados desde 2010. Muitos se basearam nestes dados para fazer a estratificação de grupos, o que provocou erros na amostragem. No critério de faixa de renda, por exemplo, o DataFolha não considerou a Pnad, que traz dados mais atuais”, sustenta.

Garbelini não acredita em manipulação de números para favorecer candidaturas, ainda que isto possa ocorrer eventualmente em pesquisas encomendadas por partidos, candidatos ou apoiadores. “Os dados são auditados e ficam disponíveis publicamente no site do TSE. Qualquer pessoa pode acessar e conferir os resultados e a metodologia aplicada. O problema é que a metodologia não é conferida por especialistas dos TSE ou fiscais e não há um órgão que regule a realização de pesquisas eleitorais no Brasil”, diz.

Representantes de institutos tradicionais como Ipec e DataFolha se posicionaram publicamente após as críticas. O problema não teria sido metodológico, mas de um comportamento de migração de última hora de votos de eleitores de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) para Bolsonaro. Por outro lado, também houve abstenções maiores entre eleitores que pretendiam votar em Lula e que se abstiveram, segundo os institutos.

O problema agora é que, com a mobilização contra os institutos, a credibilidade dos dados está sob suspeita e as equipes de coleta de dados estão tendo dificuldades para levantar os dados. A Associação Brasileira de Pesquisas Eleitorais (Abrapel) e a Associação Brasileira de Pesquisas (ABEP) publicaram uma nota na qual “repudiam veementemente o tratamento que tem sido dispensado às equipes de pesquisadores das empresas que realizam pesquisas eleitorais”.

A variação dos resultados em pesquisas eleitorais é relativamente comum. Afinal, as pesquisas são um retrato baseado em uma pequeníssima amostra de pessoas que representam diferentes grupos sociais. Trata-se de um instrumento democrático que indica tendências que podem ajudar o eleitor a escolher o que fazer com seu voto e orienta candidatos e partidos em suas campanhas eleitorais.

Qual instituto não quer divulgar dados que antecipem os resultados de uma eleição? É justamente o que torna estas empresas mais valorizadas e mais procuradas. A credibilidade é o maior valor destes institutos, então, não faz sentido apostar que as pesquisas querem divulgar dados para favorecer este ou aquele.

Registro e punição

Pela lei eleitoral, os institutos de pesquisa devem disponibilizar os dados levantados no site do TSE. Que devem ser registrados, inserindo a metodologia utilizada para aplicação das pesquisas, considerando a estratificação por sexo, idade, escolaridade, renda e região. A margem de erro aceitável em pesquisas desta natureza é de 2%, o que exige a coleta de 2.100 respostas em diferentes localidades. É possível conferir as informações como valores de contratação e notas fiscais de todas as pesquisas eleitorais válidas realizadas no Brasil no link Consulta a pesquisas registradas.

A resolução n. 23.600, de 12 de dezembro de 2019, que trata da divulgação de pesquisas eleitorais prevê multa de até R$ 106 mil e prisão para responsáveis em caso de divulgação de pesquisa fraudulenta ou não registradas. Além disso, pessoas ou instituições que se sentirem prejudicadas por pesquisas tendenciosas podem acionar a justiça para impedir a sua divulgação.

*Guilherme Carvalho é doutor Sociologia com pós-doutorado em Jornalismo. É professor do Centro Universitário Internacional Uninter.

Por Guilherme Carvalho


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