A caixa de papelão   

A caixa de papelão   


Nunes era um humilde motorista de caminhão. Para ele, a religião não tinha nenhuma importância e até discutia com aqueles que falassem sobre isso. Mas, para Deus, tudo tem a sua hora. Numa tarde, o nosso motorista viajava a grande velocidade quando, à certa distância, avistou, bem no meio da estrada, uma enorme caixa de papelão. Não teve dúvida. Brincalhão como era, decidiu passar a roda do pesado caminhão bem em cima da caixa. Firmou o volante. Contudo, quando estava próximo, num gesto contrário à sua vontade, desviou totalmente da caixa. A manobra foi tão violenta que chegou a sair fora da pista. Voltando ao asfalto continuou a sua viagem como se nada tivesse acontecido. Porém, após ter andado mais de um quilômetro, parou e começou a refletir: “Por que eu quis passar em cima da caixa e não o fiz? O caminhão saiu do asfalto e quase capotou. Não poderia outro motorista fazer o mesmo e sofrer um acidente? É melhor que eu volte e retire aquela caixa.” Nunes volta e quando se dirige para perto da caixa, a fim de apanhá-la, percebe que a caixa está andando. Levanta a caixa e vê que dentro dela estava uma criança brincando. Coloca a criança na cabine do caminhão. Atira a caixa no mato e, sem saber ainda por quê, começa a chorar. Entrega o menino aos pais. Ainda não sabe explicar como tudo aquilo aconteceu, mas agora acredita que Deus tem diversas maneiras para nos alcançar e manifestar o seu amor por nós.

Essa pequena história não chega a ser um conto de Natal, mas pode nos ajudar a pensar e a rezar nesses últimos dias antes do 25 de dezembro. Fala de alguém que pouco pensava em Deus, tinha outros interesses o motorista. De repente, aparece uma caixa de papelão. Como não pensar nos tantos pacotes grandes e pequenos dos presentes de Natal? Muitos deles são sinais sinceros de afeto; estão cheios de carinho e gratidão. Muitos outros são só uma obrigação, cumprem às formalidades de um costume de boa educação entre pessoas que, por exemplo, trabalham ou vivem juntas o ano inteiro. Que bom se esses pacotes estivessem cheios, ao menos, de sorrisos e apertos de mão, de desculpas pelas palavras ditas ou não ditas, de promessas para um novo tempo mais fraterno e harmonioso. A caixa de papelão da história, esconde uma criança, que, andando sem saber do perigo, foi parar no meio da pista. Como não pensar no Menino Jesus, o grande “presente” de Natal para todos nós? Assim acreditaram as duas mães, Maria e Isabel ao se encontrarem, apesar de ainda não poderem ver os rostos dos seus filhos.  A idosa, já no sexto mês de gravidez, e a jovem, ainda no começo daquela gestação, obra misteriosa do Espírito Santo, exultaram cheias de alegria como nos lembra o evangelho de Lucas, que ouviremos neste Quarto Domingo de Advento. Isabel proclama Maria “bem-aventurada”, porque acreditou e assim tornou possível o comprimento das promessas de Deus (Lc 1,45). Ter fé é, sem dúvida, um dom de Deus, mas nós não podemos deixar de pedir que ele a aumente e a confirme. Todos somos convidados a prestar mais atenção aos sinais do amor de Deus, a não desprezar as oportunidades que ele nos dá para abrirmos os nossos olhos e o nosso coração. Não precisa esperar algum evento extraordinário, porque Deus se serve das pessoas ao nosso redor para nos alcançar e quebrar o muro da nossa incredulidade.

Quantas mãos nos tiraram de situações perigosas, quantas nos conduziram pelos caminhos certos da vida, quantas enxugaram as nossas lágrimas e nos sustentaram nos momentos de fraqueza. Quantas mãos estendidas pediram a nossa ajuda para nos acordar da nossa indiferença. Quantas mãos se juntaram às nossas para rezar, agradecer, pedir a paz, o perdão e a reconciliação. Talvez nós teríamos passado por cima de tudo na corrida desenfreada atrás dos nossos interesses, fechados em nosso orgulho ou na busca exclusiva do nosso prazer. Se alguém nos ajudou a reavivar a mecha fumegante da nossa fé, porque não agradecer, por que não reconhecer o amor de Deus? Melhor ainda se formos nós a ajudar outros, porque acreditamos que encontrar Jesus no caminho da nossa vida, será sempre o maior presente de Deus para nós e para todos. E não só no Natal.



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