RESPOSTA À QUESTÃO PRINCIPAL

RESPOSTA À QUESTÃO PRINCIPAL


Os resultados de uma redação científica é composta de duas partes, como temos mostrado. A primeira é constituída pelos resultados parciais. Esses resultados parciais nada mais são do que as respostas às questões norteadoras que todo estudo tem que ter, correspondentes, cada uma delas, a um determinado objetivo específico. É através da resposta a cada uma das questões norteadoras que a investigação alcança os seus objetivos específicos. (Por aqui já é possível perceber que se constitui em erro primário apontar etapas para a realização de um estudo como equivalentes a objetivos específicos.) A grande dificuldade para quem tem pouca ou nenhuma experiência com investigações científicas é entender como a resposta à pergunta de pesquisa principal é formulada e redigida. Embora não haja uma técnica e tampouco exigência para que isso seja feita de uma determinada maneira, é muito comum entre os cientistas que a resposta à questão de pesquisa principal seja gerada aproveitando-se a mesma estrutura frasal da pergunta de pesquisa principal. Vejamos como isso pode ser feito.

Certa vez uma pessoa com capacidade descritiva formidável reuniu alguns amigos para falar sobre a cidade de Manaus. Falou sobre os rios, as matas, as pessoas, o clima da cidade e muitas outras coisas. Praticamente todos ficaram encantados com cada relato que ouviam. O relator organizou sua exposição por partes. Primeiro falou dos rios, descreveu as larguras, comprimentos, coloração e outros aspectos, mas sempre acompanhados de fotografias e vídeos. Depois falou das matas, o quanto elas cresciam rápido, as alturas, a quantidade delas por metro quadrado e assim por diante, comprovando cada relato com outras fotografias e vídeos. Fez esse procedimento para cada parte do que viu, ouviu, viveu e sentiu por essas bandas exuberantes do planeta. Depois que ele terminou sua encantadora exposição, uma pergunta lhe foi endereçada com quase unanimidade: o que aquilo tudo queria dizer? O que toda aquela exposição, dados, fotos e vídeos significavam?

É exatamente esse o papel da resposta à pergunta principal de toda e qualquer pesquisa científica: o que toda a exposição feita quer dizer. Quando as perguntas de pesquisa são do tipo relacional, fica muito facilitada a resposta, porque só há três possibilidades. A primeira é quando a relação é diretamente proporcional, em que o aumento nas variáveis independentes causam aumento no mesmo sentido na variável dependente. É o caso do desempenho acadêmico (variável dependente) aumentar quando a estratégia de ensino melhora, os recursos didáticos estão presentes, há suporte pedagógico para o aprendizado e há esquemas motivacionais para isso. Quando essas variáveis independentes aumentam de intensidade, tende a haver aumento no desempenho acadêmico; se houver redução deles ou ausência, a consequência é redução na variável dependente. A segunda possibilidade é se a relação for inversa, quando a variável dependente aumentar, as variáveis independentes obrigatoriamente têm que diminuir; se a variável dependente diminuir, as variáveis independentes têm que aumentar. A terceira possibilidade é não ter relação, que é quando aumentar ou diminuir o comportamento das variáveis independentes não causa variação na variável dependente. Assim, nas questões relacionais, a resposta à questão principal é o resultado da relação. Escreve-se assim “A conclusão é que há uma relação direta ou inversamente proporcional entre X e Y”. Depois explica-se o que isso quer dizer para completar o parágrafo e começar a mostrar a implicação dessa descoberta para a prática e para o campo teórico a que ela pertence.

Para as questões de pesquisa associativas, também não há por que ter dificuldade para apresentar com exatidão a descoberta. Ela é mais simples do que as questões principais dos estudos relacionais porque só há duas possibilidades. A primeira dessa possibilidades é que haja relação entre as variáveis ou fenômenos sob investigação. Por exemplo, pode haver associação entre desempenho acadêmico e as condições do ambiente de aprendizagem. Isso significa que quando o lugar onde o aprendizado vai ser trabalhado tiver os equipamentos, infraestrutura, quadro de pessoal e outros aspectos importantes, o desempenho acadêmico é elevado ou se mantém em determinado padrão aceito. A segunda possibilidade é quando não há associação, ou seja, tanto faz haver ou não haver alterações no ambiente de aprendizagem que o desempenho dos alunos não se altera. É sempre bom lembrar para não confundir associação com relação. Associação denota presença ou ausência; relação denota sempre causa-efeito.

As respostas às questões principais de estudos exploratórios é que exigem um pouco mais de esforço compreensivo. Quando o marco teórico ou a arquitetura teórica está bem estabelecida, o trabalho de gerar a resposta à pergunta principal fica facilitado. Quando se quer saber quais são os principais fatores que interferem no desempenho acadêmico, a resposta vem da própria pergunta. Por exemplo, para a questão “quais são os principais fatores que interferem no desempenho acadêmico de alunos de ensino tecnológico das escolas públicas estaduais da cidade de Manaus?”, a resposta vem mais ou menos assim “Este estudo mostrou que A, B, C, D e E são os principais fatores que interferem no desempenho acadêmico de alunos de ensino tecnológico das escolas públicas estaduais da cidade de Manaus”.

O que isso tudo quer dizer? Não importa que se trabalhe com números, palavras, sons, imagens ou qualquer que seja, a resposta à questão principal vem sempre da própria estrutura da pergunta de pesquisa principal. Se a pergunta for do tipo exploratória, a resposta será da mesma magnitude e com a mesma estrutura frasal, como mostramos no parágrafo anterior. Se a pergunta for associativa, a mesma coisa acontece. Por exemplo, para a questão “Desempenho acadêmico e fatores ambientais estão associados?” uma resposta poderia ser “Esse estudo não encontrou associação entre desempenho acadêmico e os fatores ambientais” ou simplesmente “Não há associação entre desempenho acadêmico e fatores ambientais”.


Dr. Daniel Nascimento e Silva

Dr. Daniel Nascimento e Silva

PhD, Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)



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