Amapá fecha 2021 com alta de 19% nos assassinatos em meio à disputa entre facções criminosas
Estado seguiu a tendência da Região Norte, a única do país com crescimento de mortes violentas no ano passado. Dados integram o projeto Monitor da Violência.
Após dois anos seguidos de queda nas mortes violentas, o Amapá fechou 2021 com nova alta nos assassinatos, com elevação de 19% em comparação ao ano anterior. É o que mostra o índice nacional de homicídios criado pelo g1, com base em dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal.
Foram 312 casos enquadrados como crimes violentos letais e intencionais (CLVI), que englobam homicídio doloso (quando há intenção de matar), latrocínio (roubo seguido de morte), feminicídio e morte em decorrência de lesão corporal. Em 2021, foram 262 registros.
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- ANÁLISE DO NEV-USP: Breve história do crescimento e queda dos homicídios no Brasil
- ANÁLISE DO FBSP: Queda de assassinatos na maioria dos estados mostra que forças reagiram e colocaram em prática programas de enfrentamento à violência
- METODOLOGIA: Monitor da Violência
A alta no Amapá vai na contramão dos dados nacionais, que registraram queda de 7%, mas o estado seguiu a tendência da Região Norte, onde os assassinatos elevaram 10% e quatro dos sete estados tiveram mais mortes em 2021 do que em 2020.
O Norte viveu ainda um contraponto, pois teve o estado com a maior alta (Amazonas com 54%) e o com a maior redução (Acre com -38%).
Mortes violentas por estado em 2021 — Foto: Fernanda Garrafiel/g1
Apesar disso, para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), as características da região provocam a fragilização na cobertura das forças de segurança.
"Os estados da Amazônia Legal vivem um desequilíbrio em decorrência da fragilização das instituições de fiscalização e de polícia para controlar os comportamentos criminosos na invasão de terra indígena, de grilagem, de madeira e mesmo da droga", diz Bruno Paes Manso, Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP).
No Amapá, especificamente, as forças de segurança alertam para a influência de facções criminosas na escalada de violência, onde grupos armados disputam as atividades ilegais de tráfico de drogas e armas.
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A influência dos grupos se justifica nas características das mortes, a maior parte por execução, principalmente de vítimas com passagem pela polícia ou comprovadamente integrantes de facções.
"No ano passado, quando o crime organizado declarou guerra para tomar conta do tráfico de drogas, onde tivemos aumento considerável no aumento de homicídio", declarou o coronel da PM Carlos Souza, titular da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Em maio de 2021, por exemplo, uma série de execuções assustou moradores de áreas periféricas de Macapá e Santana, as duas maiores cidades do estado.
Foram 17 assassinatos em apenas um fim de semana e a investigação descobriu que a morte do filho do líder de uma facção desencadeou a onda de violência.
"Temos homicídios por coisas banais: briga de bar, entre amigos bebendo, que não tem nada a ver com o crime organizado, mas temos também as execuções que ocorrem através das brigas das facções criminosas", completou o secretário de segurança pública.
Para coibir e monitorar áreas dominadas pelo tráfico e sob poder de facções, o serviço de inteligência prevê para abril o novo Centro Integrado de Operações que vai analisar e acompanhar em tempo real.
"Fazer com que o gestor do batalhão, da delegacia possa alimentar aquele policial que embarca na viatura para fazer o patrulhamento, que ele tome conhecimento na sua área de atuação no que aconteceu nas últimas 24 horas e quais são os maiores incidentes lá", finalizou Souza.
Índice nacional de homicídios
A ferramenta criada pelo g1 permite o acompanhamento dos dados de vítimas de crimes violentos mês a mês no país. Estão contabilizadas as vítimas de homicídios dolosos (incluindo os feminicídios), latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Juntos, estes casos compõem os chamados crimes violentos letais e intencionais.
Jornalistas do g1 espalhados pelo país solicitam os dados, via assessoria de imprensa e via Lei de Acesso à Informação, seguindo o padrão metodológico utilizado pelo fórum no Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
O governo federal anunciou a criação de um sistema similar ainda na gestão do ex-ministro Sergio Moro. Os dados, no entanto, não estão atualizados como os da ferramenta do g1.
Os dados coletados mês a mês pelo g1 não incluem as mortes em decorrência de intervenção policial. Isso porque há uma dificuldade maior em obter esses dados em tempo real e de forma sistemática com os governos estaduais. O balanço de 2020 foi realizado dentro do Monitor da Violência, separadamente, e foi publicado em abril. O levantamento do ano de 2021 ainda será divulgado.
Fonte: G1-AP