Entrevista: O debate sobre a descriminalização do porte de maconha para consumo próprio
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou a votação sobre a descriminalização do porte da maconha para consumo próprio. Com o argumento de que o porte de quantidades mínimas não atinge a saúde pública, quatro dos 11 ministros já votaram a favor do recurso. Contudo, a falta de definição sobre como aferir o peso da maconha em abordagens policiais e o possível impacto na questão do tráfico têm gerado debates sobre as consequências dessa decisão.
Para esclarecer essa questão, o Brasil 61 entrevistou o psiquiatra Jorge Jaber, especialista no tratamento de dependentes químicos há mais de 35 anos. De acordo com o Dr. Jaber, a descriminalização poderá levar a um aumento de doenças relacionadas ao uso de drogas e afetar principalmente os jovens.
Confira a entrevista:
Brasil 61: O STF está discutindo a descriminalização do porte e uso de drogas, especificamente da maconha, abrindo caminho para a descriminalização no Brasil. Qual é a sua opinião sobre isso?
Jorge Jaber: A liberação de substâncias químicas, no Brasil e em qualquer parte do mundo, pode levar ao aumento de casos de doenças relacionadas ao uso de drogas. Essas doenças podem ser detectadas em curto, médio e longo prazo. Parece que o STF ainda não dispõe de conhecimento técnico suficiente para prevenir essas consequências.
Brasil 61: A descriminalização do uso individual pode incentivar o aumento do consumo no Brasil e agravar a situação da dependência, especialmente entre os jovens?
Jorge Jaber: Um dos problemas graves relacionados ao uso de drogas são os acidentes, e a maior causa de internação em emergências médicas são acidentes de trânsito. Cerca de 70% desses acidentes têm alguma substância envolvida. A liberação de mais drogas tende a produzir mais acidentes ou aumentar sua quantidade. Por outro lado, o objetivo do STF parece ser evitar a prisão precoce de pessoas que usam pequenas quantidades.
Brasil 61: Quais são os principais efeitos da maconha na saúde dos usuários, especialmente os viciados e aqueles que a consomem misturada com outras drogas?
Jorge Jaber: Inicialmente, a maconha pode parecer acalmar a pessoa, mas, posteriormente, ela pode se tornar levemente dependente. A falta da substância leva ao aumento da ansiedade, e a pessoa pode se tornar dependente. Os principais efeitos incluem aumento da ansiedade, irritação, transtornos de humor, depressão e dificuldades de aprendizado, especialmente em jovens cujo cérebro ainda não amadureceu.
Brasil 61: Há quem afirme que o álcool também é uma droga perigosa devido ao seu consumo liberado. O que o senhor pensa sobre isso?
Jorge Jaber: O álcool é uma droga perigosíssima e causa mais problemas de saúde pública do que as outras drogas juntas. No entanto, sua venda é liberada apenas para adultos. A liberação da maconha não seguirá a mesma orientação, o que significa que crianças e adolescentes também terão acesso a outras substâncias liberadas.
Brasil 61: O consumo da maconha é considerado uma porta de entrada para outras drogas?
Jorge Jaber: Nossa cultura tende a achar que é preciso adicionar algo para ter felicidade, e isso não se aplica apenas ao uso de drogas. Inicialmente, as drogas, incluindo a maconha, podem trazer uma sensação de prazer, mas ao longo do tempo, podem levar à dependência. Devemos ter cuidado com qualquer substância química e evitar a intoxicação do ser humano.
Brasil 61: Quais são as soluções disponíveis para tratar a dependência de drogas, especialmente para as famílias que enfrentam esse problema?
Jorge Jaber: Para quem enfrenta problemas com drogas e não tem recursos, há organizações como Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos que oferecem ajuda gratuita em todos os lugares do Brasil. Essas instituições salvam vidas quando não há acesso a profissionais de saúde.
A questão da descriminalização do porte de maconha para consumo próprio é complexa e tem gerado debates acalorados na sociedade brasileira. O ponto de vista de especialistas como o Dr. Jorge Jaber ajuda a trazer luz sobre as possíveis implicações dessa decisão na saúde pública e na vida dos usuários, principalmente dos mais jovens. O Brasil 61 continuará acompanhando o desenrolar desse tema relevante para a sociedade brasileira.
Fonte: Brasil 61
