Especialistas orientam sobre cuidados com o excesso de cera no ouvido
Profissionais da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia explicam possíveis causas do problema e alertam para que os procedimentos sejam feitos por médicos
Todo mundo tem cera nos ouvidos, mas para algumas pessoas o acúmulo pode ser excessivo, e o organismo pode não ser capaz de eliminá-la. Também conhecida como cerume, essa substância é produzida naturalmente e tem como função proteger a pele do canal auditivo, que é bastante fina e frágil.
O entupimento do canal auditivo por excesso de cera é frequentemente desencadeado pelo uso inadequado de hastes de algodão ou outros objetos - como grampos - na tentativa de limpar os ouvidos, mas essa prática empurra a cera ainda mais para dentro, em vez de removê-la.
De acordo com a Dra. Clarissa Castagno, especialista da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), outro fator de risco para o acúmulo de cerume é a idade do paciente. “Ocorrem mudanças na composição do cerume produzido pelas glândulas ceruminosas nos ouvidos das pessoas de maior idade, que tendem a tornar a cera mais rígida e menos lubrificada. Além disso, a pele que reveste o canal auditivo também sofre alterações e isso contribui para uma redução na capacidade natural do ouvido de expulsar a cera de forma eficiente”, informa a otorrinolaringologista.
Indivíduos que apresentam pequenas alterações na anatomia do ouvido, mesmo que desde o nascimento, podem ter um canal auditivo externo mais estreito ou ter uma produção aumentada de cerume, o que aumenta também a propensão de acúmulo. Da mesma forma que as hastes flexíveis de algodão, o uso de fones de ouvido de inserção ou protetores auditivos que penetram na parte interna do conduto auditivo podem colaborar para o acúmulo da cera.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Otologia, Dr. Arthur Menino Castilho, as células vão se renovando sempre de dentro para fora, o que faz com que a cera seja naturalmente e continuamente empurrada para fora do ouvido. “Muitas pessoas interpretam a presença de pequenos fragmentos de cera ao redor da abertura do ouvido como um sinal de acúmulo. Entretanto, na realidade, isso é um indício de que o ouvido está funcionando adequadamente, eliminando porções de cera antiga de forma natural”, completa.
Sintomas de desconforto
O acúmulo de cera no ouvido ocorre quando ela fica presa, obstruindo o canal auditivo. Nessa situação, diversos sintomas podem surgir, como sensação de perda auditiva ou de ouvido tapado, zumbido, coceira, tontura e dor de cabeça.
“É importante a busca por um médico otorrinolaringologista aos primeiros sinais indicados, porque a sensação de plenitude auricular (ouvido tapado) pode não ter como causa esse acúmulo de cerume, então, é necessário o diagnóstico desta sensação de entupimento. A partir disso, sua remoção é necessária, pois, além do desconforto, há redução da audição”, alerta o médico.
Tratamento
A escolha do tratamento adequado dependerá do quanto a cera está petrificada e da situação específica de cada paciente. Existem basicamente três modos para se remover o excesso de cera dos ouvidos:
● Uso de ceruminolíticos: são gotas aplicadas nos ouvidos com o objetivo de amolecer a cera, facilitando a sua limpeza pelo médico. “Essas substâncias não removem o cerume, apenas o deixa mais fluido. Se a lavagem não for feita logo em seguida à sua utilização, o cerume endurece novamente e, desta vez, se moldando ao conduto e piorando a sensação de ouvido tapado”, explica a médica otorrinolaringologista Edimara Ísola, membro da ABORL-CCF.
● Irrigação: o procedimento é geralmente feito com um jato produzido por uma seringa de água morna no ouvido, ajudando a remover a cera compactada. Para a limpeza bem-sucedida, a corrente de água deve fluir por trás do cerume obstrutor para movimentá-lo, primeiramente no sentido lateral e, em seguida, para fora do canal.
● Remoção mecânica: o médico, com equipamentos especiais, consegue visualizar diretamente o interior do ouvido, podendo remover facilmente o excesso de cera impactada com a ajuda de instrumentos adequados.
No Brasil, a prática da Medicina é regulamentada pela Lei nº 3.268/1957, que diz que apenas médicos devidamente habilitados e registrados no Conselho Regional de Medicina (CRM) têm autoridade legal para realizar procedimentos médicos, incluindo a lavagem do ouvido.
Segundo a Dra. Edimara, caso esse procedimento seja feito por outro tipo de profissional, os riscos de complicações aumentam. “É possível que aconteça a irritação ou lesão do canal auditivo e o deslocamento ou impactação da cera, empurrando o cerume mais profundamente, o que causaria mais dores, desconforto ou risco de infecção. Lembrando que o diagnóstico da causa da sensação de plenitude auricular, das condições da orelha e do conduto auditivo externo (presença de perfuração timpânica, por exemplo) será determinante na escolha do procedimento”, destaca a médica.
Outro alerta é sobre o uso de produtos, como o cone chinês ou cone hindu. A especialista reforça que há perigo de lesões, como queimaduras, bloqueio do canal auditivo e ruptura do tímpano. “O ouvido é um órgão sensível e delicado e a ocorrência de lesões pode afetar a audição, até mesmo de forma definitiva. Por isso, é essencial buscar atendimento de um otorrinolaringologista”, finaliza a especialista.
Sobre a ABORL-CCF
Com 75 anos de atuação entre Federação, Sociedade e Associação, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), Departamento de Otorrinolaringologia da Associação Médica Brasileira (AMB), promove o desenvolvimento da especialidade por meio de seus cursos, congressos, projetos de educação médica e intercâmbio científicos, entre outras entidades nacionais e internacionais. Busca também a defesa da especialidade e luta por melhores formas para uma remuneração justa em prol dos mais de 8.500 otorrinolaringologistas em todo o país.