Empresária que participou da descoberta de Gisele Bündchen critica o atual descarte acelerado de novos talentos na moda
"As modelos são como flores, precisam de tempo para desenvolver e desabrochar. Hoje em dia, Gisele talvez não desse certo neste mercado tão volátil", afirma Liliana Gomes
Ser descobridora de top models rende inúmeras situações especiais: encontrar uma pequena Gisele Bündchen em uma excursão a um shopping paulista, ou ser abordada no quarto do hotel pela mãe da então aspirante a modelo Fernanda Tavares.
Empresária e agente de top models, Liliana Gomes participou da descoberta e desenvolvimento de diversas modelos, entre as quais alguns nomes chegaram ao estrelato: “Se tornar top model é algo tão disputado quanto a concorrência que enfrenta um jogador de futebol”, afirma.
Graduada em Direito, a empresária seguiu um caminho diferente do que planejava na faculdade, mas natural para seu talento analítico. Participou da descoberta de nomes como Gisele Bündchen, Isabeli Fontana, Michelle Alves, Raica Oliveira, Ana Beatriz Barros, Caroline Ribeiro, Fernanda Tavares e Lais Ribeiro – nomes com os quais viveu as mais variadas e enriquecedoras experiências.
Em 1994, foi convidada a avaliar uma excursão de candidatas a modelo, em um shopping center da capital paulista. “Logo batemos o olho em uma jovem de beleza especial, e a convidamos para visitar a agência. Ela seguiria com a excursão para um parque de diversões, mas focada, aceitou nosso convite, abrindo mão de um dia de diversão para empenhar-se no que seria o início de uma carreira brilhante”. Anos depois, a pequena Gisele tornava-se o mais aclamado nome do mercado mundial.
Os tempos, porém, mudaram: a velocidade acelerada pós-redes sociais e globalização acentuaram a volatilidade do mercado.
"O descarte de seres humanos acontece em várias situações do planeta. As relações tornaram-se descartáveis, porque as pessoas acreditam que encontrarão uma melhor logo adiante", reflete Liliana.
O atual cenário foi alvo de críticas da empresária, que empenha-se para que as modelos tenham o tempo de desenvolvimento natural respeitado: "Quando começou a carreira, Gisele levou quase 2 anos para fazer algo no Brasil. No cenário atual, talvez não desse certo num mercado tão volátil", afirma.
"As meninas são como flores. Precisam de tempo para desenvolver e desabrochar. Existe uma curva de crescimento e naturalmente as modelos levam um tempo para aprender a profissão".
Atuando no mercado há mais de trinta anos, a empresária de 58 anos coleciona outras experiências inusitadas: “Em uma de minhas viagens em busca de novos rostos, desembarquei em Natal. Faríamos uma seleção de possíveis modelos, mas uma em especial foi acertadamente persistente. Já era noite quando bateram na porta do meu quarto no hotel. Uma mãe trazia pelo braço a pequena Fernanda Tavares, pedindo para que sua filha fosse avaliada. Sua beleza única e seu foco construíram uma carreira admirável”.
O trabalho de descoberta e desenvolvimento precisa de atenção. Um possível case de sucesso pode passar despercebido a olhos desatentos - o que é acentuado no atual cenário de volatilidade acelerada. O sucesso é construído a longo prazo. “Ainda me lembro de receber as fichas de inscrição para os concursos na época da agência Elite, de nomes hoje conhecidos em todo o mercado. Isabeli Fontana – que chegou a uma seleção no último minuto, além de Michelle Alves, Raica Oliveira e Ana Beatriz Barros são alguns deste nomes”.
Em 2008, Liliana Gomes fundou a JOY Management Brasil. “Neste novo momento, descobrimos Lais Ribeiro, hoje um dos nomes mais aclamados no mercado mundial. O crescimento destas meninas é o que move os profissionais deste mercado. É um trabalho movido por foco, persistência e paixão”.
Em busca de reverter o atual cenário, Liliana vem implantando dinâmicas e procedimentos que respeitem o tempo natural da evolução profissional dos novos talentos.
"Acender de 'new face' para 'model management' é um trabalho duro, também sujeito a sorte. Algumas acontecem rapidamente, mas as meninas de carreira normal vivem tempos difíceis e é muito difícil transformarem-se em tops diante de uma volatilidade tão prejudicial. Está tudo cada vez mais acelerado", afirma.
Num cenário de ‘e-commerces’, campanhas de curta duração e globalização, um cliente recebe ofertas de modelos do mundo todo. Há também uma tendência onde os diretores de casting, visando criar imagem, trocam rapidamente as meninas que atuam nos trabalhos.
"A pergunta que fica é: depois da geração de supermodelos brasileiras, quantas mais foram feitas? Isso faz com que o mercado sinta este movimento e volte a buscar as modelos dos anos 90, que se repetiam em campanhas, tinham contratos anuais, o que dava tempo delas se tornarem as profissionais que são", finaliza.
Veja o depoimento de Gisele Bundchen
Por Thiago Bunduky