OPORTUNIDADES À GESTÃO DA INOVAÇÃO
A percepção ambiental tem nas oportunidades as forças motrizes que impulsionam as organizações em direção às suas visões de futuro declaradas. A capacidade perceptiva do ambiente externo é completada com o mapeamento dessas forças. É sobre elas que as matrizes de possibilidades de ação são elaboradas. Servem, grosso modo, para abrandar os impactos das ameaças e impulsionar as organizações para o futuro. Para que a percepção seja desenvolvida, é necessário que se compreendam as naturezas e os tipos básicos dessas forças, assim como as suas dinâmicas. De posse dessa compreensão, percebe-se que as responsabilidades de acompanhamento, monitoramento e resposta ficam muito plausíveis, transformando, efetivamente, os planos estratégicos em caminhos que levarão ao futuro desejado. Este ensaio tem como objetivo mostrar como as oportunidades ambientais podem ser percebidas pelas organizações de ciência e tecnologia.
Oportunidade é tudo aquilo que facilita às organizações alcançarem seus objetivos. Há, portanto, oportunidades de curto, médio e longo prazos. As de longo prazo são aquelas que se consolidam ao longo do horizonte total de planejamento institucional; as de curto prazo são as que possibilitam realizações em até um ano; enquanto as de médio prazo são as que se estendem entre esses dois horizontes, geralmente de um a três anos. Essa é uma tipologia que é fácil de compreender. Um edital de captação de projetos de inovação para finalização em seis meses é exemplo de oportunidade de curto prazo, enquanto a parceria para a construção de um laboratório de inovação, para começar operar em cinco anos, representa oportunidade de longo prazo.
Mas os dirigentes precisam compreender que as oportunidades são materializações de pensamentos. Dito de outra forma, as oportunidades são apresentações físicas de arquiteturas extrafísicas. Isso é fundamental. Se essa relação não for compreendida, dificilmente as instituições as aproveitarão. É muito comum, por exemplo, as instituições serem surpreendidas com editais que poderiam muito bem se sair vitoriosas, mas que, devido ao prazo extremamente exíguo de apresentação da candidatura, fracassam. Como os seus dirigentes não compreendem a prática dessa dinâmica, tendem a fazer os projetos em cima da hora. Daí fica difícil concorrer com projetos que levaram anos sendo preparados em conformidade justamente com o pensamento que materializou o edital. É preciso perceber o pensamento (extrafísico), para que se possa saber como lidar com o material (físico).
As oportunidades podem ser globais, também chamadas planetárias, porque envolvem o mundo todo. Empresas como Microsoft, organizações como Unicef e instituições como o DAAD (Deutscher Akademischer Austauschdienst) são entidades que agem no mundo todo oferecendo diversos tipos de parcerias. Banco Mundial, ONU e OCDE são outros tipos quase sempre deixados de lado pelos gestores institucionais como fontes de oportunidades para que as declarações de visões de suas instituições se materializem. Mas é preciso, novamente, considerar que as manifestações reais, físicas, de oportunidades são apenas consequências de esquemas mentais, tanto da população do planeta quanto dos membros dessas instituições, que precisam ser percebidas pelos gestores. Harvard, Stanford e MIT, as gigantes instituições de ponta americanas também agem no mundo todo, à cata de parcerias interessantes. Note que o sentido de perceber vai muito além dos sentidos. Envolve atitude.
Outras oportunidades são nacionais. Capes e CNPq são fontes de oportunidades muito conhecidas, mas incrivelmente muito pouco acionadas. Inúmeras outras podem ser mapeadas e monitoradas, como a gigante Petrobrás e as empresas que obrigatoriamente têm que investir parte de suas receitas por força de lei em qualquer parte do território nacional. Grupos de pesquisas nacionais de ponta também aceitam parcerias nas suas expertises, desde, naturalmente, que tenham algo de retribuição. São parceiros, não doadores.
Há também as fontes de oportunidades regionais. Bancos de desenvolvimento (como o Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul), instituições de pesquisas regionais (como é o caso da Embrapa Amazônia Ocidental) e empresas privadas diversas e suas entidades (como é o caso da Fundação Abrinq) são fontes formidáveis de parcerias. Novamente, é preciso que os dirigentes institucionais se aproximem delas, processo quase sempre lento, para compreender os seus pensamentos e se preparar para as oportunidades reais. Finalmente, há as fontes estaduais e locais, que apresentam o mesmo esquema: elaboram pensamentos e os materializam em formas de oportunidades para atuais e futuros parceiros.
Perceber oportunidade significa se aproximar dessas fontes, manter constante diálogo com elas, inclusive ajudando a organizar e tornar precisos os seus pensamentos, e ajudá-las a materializá-los a partir de propostas viáveis financeira e operacionalmente. Reitores e pró-reitores precisam se incumbir da percepção internacional e nacional, enquanto os dirigentes de campi têm sob sua responsabilidade a interação constante com as fontes regionais, estaduais e locais. É preciso fazer um mapa dessas fontes e estabelecer algum esquema de monitoração, tendo em mente (pensamento institucional) o escopo dos projetos passíveis de serem demandados e os produtos a serem gerados. Isso lhes permitirá elaborá-los com o tempo suficiente para torná-los competitivos e até imbatíveis.
Muita gente, infelizmente, ainda age de forma ingênua quando falamos sobre percepção de oportunidades. Imaginam que isso é esforço de raciocínio, memória e lembranças. Percepção é termo técnico que poderia ser definido como esforço institucional de manter relacionamento intenso com outras instituições e organizações, colaborando com a organização de seus pensamentos estratégicos, tendo em vista a formação de parcerias que os materializem. Perceber não é acionar os sentidos. Perceber é usar toda a capacidade pessoal e institucional para firmar parcerias que levem à materialização de visões de futuro.