ZÉ LOIRINHO, CODINOME ONE-SEVEN-ONE
Lá na Vila da Barca, conhecida pelos casebres construídos sobre palafitas, estivas de madeira com pontes e estacas em terreno alagadiço que seguram essas estruturas improvisadas. As passarelas de madeira servem de ruas. É uma versão tupiniquim de Veneza do 3º mundo subdesenvolvido ou protótipo terráqueo do inferno (Heia, Brasil, zil zil zil...), em Belém do Pará – a capital das mangueiras. Ali na barriga da miséria nasceu um moleque sarará. Feio. Muito Feio. Mas bota feio nisso! Explico!
“Dizqui” ainda buchuda Dona Consu pediu em oração aos céus que não fazia questão de um filho bonito, mas o queria com saúde e esperto. Ok então! Em conversa com a Virgem de Nazaré, a Santa de todos os paraenses, esta lhe disse:
-Está vendo lá? Tem três filas. Entre na primeira para cadastrar se quiser filho bonito, mas pode vir com alguns defeitos. Vá na segunda fila para agendar um filho mediano, nem feio, nem bonito e pode ser um pouco “gala seca” (santa também fala gíria dos paraenses rsss). E entre na terceira filha pra optar por filho saudável e esperto, mas pode vir um pouco feinho.
Coitada da Dona Consu: para reforçar seu desejo entrou na fila dos feios umas 10 vezes... Assim nasceu o pretinho-sarará Zé Loirinho, “zóio esbugaiado”, barrigudinho parecia que nascera com áscaris lumbricóides até o talo, canela fina... vixe! Mas pra mãe não tem filho feio. Quando a parteira mostrou para ela o menino, Dona Consi olhou um pouco assustada e disse:
-Ô zoiudinho lindo da mamãe. Vem cá com a mamãe mamar, vem?
Tão feio que nos bailes de máscaras no carnaval só lhe vendiam o elástico! Mais feio que batida de carroça! Quando o bicho papão contava história pra fazer medo no filho dele, a visagem da história era o Zé Loirinho! Kkkk.
Bem, mas Deus caprichou na esperteza. Zé Loirinho se virava nos 30 segundos! Era tão esperto que o apelidaram de Zé One-Seven-One. Como todos sabem, o artigo 171 do Código Penal tipifica a conduta do estelionato. Êpa! Estelionato no bom sentido é claro, porque o Zé Loirinho sempre foi correto.
O gajo, além de tudo, mentia mais do que a bula do Biotônico Fontoura. Mentia com tanta cara dura que até ele acreditava nas mentiras dele. Mas a capacidade que ele tinha para mentir, eu e os amigos tínhamos para fingir que acreditávamos! Kkk.
Entrou na marinha no Rio de Janeiro como taifeiro, cuja mais alta patente foi o de tenente das batatas, que descascava aos montes. Mas saiu de lá como Comendador. Caraca! Conheço general que morreu sem pegar comenda! Aplicou “one-seven-one” na macacada do alto oficialato da marinha!
Bem relacionado e um gourmet de mão-cheia, sempre teve boas amizades e o carinho de todos. Mas Zé Loirinho fazia das suas traquinagens por onde passava.
Voltou às origens aqui na região norte, em plena Amazônia. Primeiramente, usando os dotes culinários, montou um restaurante na orla, O Veleiro. Devia ser chamado de O Velheiro porque só ia velho naquele pé-sujo... Mas de tantos pedidos de “pinduras no prego” dos amigos velhacos, virou o Titanic... afundou! Kkkk.
Depois virou empreiteiro. Sabe aquelas empreiteiras de suvaco? Não? É aquela empresinha que a sede e toda a papelada cabem dentro de uma pasta de elástico e o dono carrega pra cima e pra baixo debaixo das axilas.
O endereço da sede o contador pega o talão de energia de outrem qualquer. O oficial da Justiça do Trabalho nunca acha! Kkk.
O Comandante, o bom velhinho de quepe azul, quando na gestão como governador do Território Federal do Amapá, adorava os quitutes e iguarias do Zé Loirinho. Um tucunaré assado na manteiga de garrafa e pronto: estava tudo certo.
Quando o Zé dos marimbondos-de-fogo passeava pelo Amapá, pois tinha visto eleitoral turístico conferido pela cômica Justiça Eleitoreira (a piada foi permiti-lo eleger-se senador sem domicílio nas terras da nação indígena tucuju), sempre comia um peixe preparado pelo Zé Loirinho.
E no retorno à Ilha de Upaon-Açu, capital do “"Mar'Anhan" (em tupi, significa "mar que corre"), levava outro na bagagem para Dona Marli lá na Praia da Marcela.
Nessa época o Zé Loirinho nadou de braçada porque nem precisava fazer a obras... Mas a galera adorava um peixe chamado jaraqui, este não podia faltar! Rss.
Certa feita eu estava em Laranjal do Jari e lá conheci Zé Loirinho. Gente boa. Estranhei porque a despeito da feiura de nascença, ele namorava umas periguetes bonitas. Certo que falam que mulher não gosta de homem bonito: gosta de dinheiro! Dizem que quem gosta de homem bonito é fresco! Kkk. (Hei turma do LGBTQIA+o-alfabeto-inteiro: por favor não me processem. Não tenho nada contra e nem a favor, muito pelo contrário!) Rss!
Num churrasco na casa dele, descobri o segredo dos encantos do Zé Loirinho quando entrei na suíte para tirar água do joelho e vi uma montanha de currículos, todos femininos, para admissão na Suvaco & Cia. (rsss).
Depois, esse golpe ficou manjado e Zé Loirinho logo achou outro estratagema. Vou contar.
Dizem que após o love, quando as periguetes cobravam a conta, Zé Loirinho sacava do cartão de crédito, dava a senha para a gueixa e as mandava do outro lado do rio Jari, lá em Monte Dourado, já no Estado do Pará.
Tinha que andar um bocado, pegar catraio e depois carona da beira até o centro daquele Distrito Paraense, remanescente do Projeto Jari, o megaprojeto de celulose do empresário norte-americano Daniel Keith Ludwig, seu sonho amazônico que lhe rendeu pesadelos.
É que em Laranjal não tinha bancos e nem caixas eletrônicos! Pensa num atraso! Coitada das moças! Tentavam, tentavam, tentavam e nada de fazer a máquina vomitar cédulas...
-Seu guarda, essa máquina está com defeito?
-Não, moça! O terminal está normal. Deixa eu ver? Ora, isso aqui é um cartão da TV Sky! (kkk).
Putz, esse golpe do cartão de crédito da Sky deveria ser patenteado pelo Zé Loirinho, tamanho a eficácia! Kkk.
Com o Zé Loirinho eu descobri o que é asfalto sonrisal: as obras de pavimentação da Suvaco & Cia. se dissolveram na primeira chuva! Pior foi o muro de uma escola: os primeiros ventos tropicais jogaram tudo no chão! E o quartel da PM? Pintou com cal e bisnaga! Desbotou no mês seguinte! Quase ele foi preso, teve que pintar tudo de novo com Coral sob tonfa... kkkk!
Fiz amizade com o desgranido. Bem, se meter em negócios com ele era barca furada na certa!
Em outra ocasião, quando mil reais valia algum dinheiro, pediu-me emprestado numa sexta-feira à tarde.
-Dotô, estourou meu limite de saque, dá pra sacar milão? Estou indo agora com um caminhão carregado de material de construção para uma obra no interior. Preciso pagar o pessoal.
A obra era justamente na Comarca onde eu trabalhava. Saquei e emprestei. Quando foi umas 22 horas, fui à cachaçaria da amiga Sonia Assis saborear o famoso camarão flambado na cachaça e eis que me deparo com o Zé Loirinho todo becado, camisa da Lacoste, sapato branco e em cima da mesa um tubo de Black Label.
-Ué, não viajou?
-Mandei o caminhão na frente. Amanhã de madrugada vou pra lá.
Quando foi na segunda-feira cedinho Zé Loirinho bateu na minha porta e me entregou um envelope lacrado.
-Doutor, houve um imprevisto e não deu para viajar. Como o doutor está indo, entrega esse envelope com o dinheiro para o meu encarregado pagar meus operários. É o vale da semana.
Lá no interior, quando o mestre de obras abriu o envelope, olhou pra minha cara puto da vida e me devolveu o envelope.
-Doutor, sei que o sr. não tem nada a ver com isso, mas fala para aquele feladaputa o que eu vou fazer com 100 reais? Lá na obra tem 10 peões...
A peãozada saiu vendendo saco de cimento, tinta, telha etc... kkkkk! Lógico, Zé Loirinho nunca entregou a obra...
A capacidade de Zé Loirinho de se meter em confusão era infindável. Por ocasião do carnaval fomos convidados pelo amigo Jonas Gemaque para uma festa na UNA (União dos Negros do Amapá). Já em vigência a Lei Seca e sabendo que iria tomar umas cervejas e gengibirras por lá, não me arrisquei e fui de táxi. É só calcular o valor das multas e fiança pra sair da cadeia por direção sob embriaguez.
Mas Zé Loirinho foi na sua Mitsubishi reluzente.
-Zé, larga esse carro por aqui e vai de táxi porque tem blitz pra todo lado! Ou não beba!
-Que purra nenhuma, conheço todo mundo da PM, o comandante não sai da minha casa. Já fiz até tartaruga pra eles...
No final da festa voltei pra casa de táxi e não demorou uns 30 minutos recebi uma ligação do Zé Loirinho. Foi barrado numa blitz e me pediu pra falar com o sargento pra quebrar o galho dele.
-Doutor, seu amigo está muito embriagado, está com a carteira vencida há 10 anos e nunca pagou o IPVA, só o “pro-rata” que as concessionárias dão de brinde...
-Pô, sargento, não dá pra entregar a direção pra algum acompanhante habilitado que esteja com ele?
-Doutor, ele está com dois gays e uma periguete que aparenta ser menor...
-Sargento, prende logo esse feladaputa... eu avisei ele... kkkk.
Bem, no outro dia fui lá paguei a fiança e ele perdeu a caminhonete que estava com busca e apreensão decretada, nunca pagou uma única prestação! Kkkk.
Mas como eu falei, a capacidade de se meter em encrencas não era bolinho.
Tempos depois, cedinho a campainha de casa toca. Estava um pouco escuro e não deu muito para identificar, mas pela silhueta desforme presumi que era o Zé Loirinho.
Observei que ele estava com os lábios mais protusos que de costume. Mas fiquei na minha, porque podia ser uma injeção de botox para minimizar a feiura... (rss)
-Doutor, o que eu faço com isso (mostrando o beiço tufado)? Levei um soco...
-Passa gelo! (rsss)
Zé Loirinho resolvera ser cineasta e fez um filme XXX caseiro com a namorada, uma policial civil já pra lá de Bagdá, um sinal que estava em franca decadência, já não era mais o Zé das meninas do Jari. (rsss)
-Pô, ela ainda sacou a arma e se não fosse a mãe dela intervir eu tinha é levado um tiro...
Zé Loirinho se atrapalhou com o Zap (novidade na época) e compartilhou sem querer o vídeo no grupo dos pagodeiros de Macapá... Foi um sucesso de bilheteria, um mussum molenga tentando se levantar! E haja reza! A moça rezou muito! Tocou até flauta de encantar serpente naja pra fazer o sonolento subir, mas nada! Kkk.
Sorte dele que a policial trabalhava com uma delegada minha amiga, que eu era louco por ela, mas nunca meti a cara por causa da .40 que todas delegadas trazem na cintura. Tedoidé? Todo mundo tem um fetiche, não é mesmo? Uns são loucos por aeromoças, outros por enfermeiras, empregadas domésticas etc. E eu, besta velho, fui ter fetiche logo por Delegada, o mais perigoso dos fetiches. Ainda vou criar coragem! Kkkk.
Bem, pus panos quentes e a paz voltou a reinar como dantes no reino de abrantes.
Ah... mas a molemolência certamente continuou, porque o gabola é hipertenso e cardíaco e não pode azular.... kkkk.