AOS MESTRES COM CARINHO: HÁ PATRULHAMENTO IDEOLÓGICO NA ESCOLA?

AOS MESTRES COM CARINHO: HÁ PATRULHAMENTO IDEOLÓGICO NA ESCOLA?


Dia do professor nesta semana, mas não houve muito o que se comemorar, pois o magistério virou um sacerdócio. Os níveis do ensino no Brasil andam críticos. Mas de quem é a culpa? Do Paulo Freire? Dos pais que não se desincumbem da educação familiar e empurram tudo para a escola? Que não cobram dos filhos e nem da escola o desempenho? Dos professores? Ou do Bolsonaro (rss)? E no “on line” da pandemia então? Muitos professores mandam as páginas dos livros de português, matemática, história, geografia e artes e os pais que se virem pra acharem tempo e didática (rss). 

Bem, não adianta ficar procurando culpados. A sociedade como um todo tem que arregaçar as mangas, identificar as causas e partir para a solução. Um problema só será bem resolvido se “a priori” for bem compreendido. Não é mesmo?

No dia do docente compartilhei um vídeo em um grupo de professores universitários no qual uma jovem sustenta que há um fundo ideológico em face da exposição dos livros em uma grande livraria, possivelmente a Livraria Cultura, localizada no Conjunto Nacional na Capital Paulista. 

Segundo a tese da moça, os livros de autores de esquerda e de temas controvertidos ficam bem localizados, enquanto que os livros de autores da direita ou conservadores ficam praticamente às escondidas. Então deduziu que por isso, e somente por isso, há uma interferência ideológica no mercado editorial.

Três professores, a quem estimo pelo modo cortês, coleguismo e dedicação à causa do ensino, se manifestaram.

 A primeira intervenção foi “Que vídeo ridículo. Homofóbico, racista e ignorante”. Essa pérola recebeu a solidariedade de outra professora, que puerilmente acha que não existe “esse negócio de esquerda”. Não explicou as adjetivações e a ementa saiu pior que o soneto.

A segunda foi: “Que vídeo ridículo, a alienação política produz estas distorções da realidade. Vou guardar, um triste exemplo pode ser usado pedagogicamente pra mostrar o resultado da alienação”.

Quer mesmo mostrar o resultado da alienação política, professor? Então use pedagogicamente uns vídeos da galerinha defendendo o mor da quadrilha que assaltou o país e acham que o ladrão é o juiz que botou um punhado de políticos safados na cadeia. E explica pedagogicamente que suspeição é um defeito processual que impede o juiz, promotor e perito de funcionarem no processo. Não é crime.

Pronto, fechou a tampa professor! Isso sim é que é alienação política.

Vejam que ambas as colocações dos mestres não contribuíram em nada para o processo dialético. Aquele basicão, né? Tese x antítese = síntese.

Os professores não apresentaram uma antítese para contrapor os argumentos, apenas adjetivaram preguiçosamente sem fundamentar, o que nada acrescenta na edificação da escadaria do conhecimento. 

E eu confesso que não entendi bem os chiliques porque a moça do vídeo em momento algum criticou o conteúdo dos livros, somente estranhou a colocação destes. Não vi nada de homofóbico, de racista, ignorância ou produto de alienação política, com o maior respeito.

Faço uma observação que se há alienação, há dos dois lados, porque amiúde me deparo com poros exalando o Gramscismo com suas ideias abomináveis e táticas de igual quilate, as quais repilo veementemente. É um direito meu, tá?

Apenas para refrescar a cachola, Antonio Gramsci foi um teórico esquerdista (Séc. XX), o qual defendia que a melhor maneira para o comunismo dominar o mundo seria a hegemonia cultural utilizando a linguagem para distorcer nossas crenças, nossas percepções, nossos valores, nossa moralidade e finalmente subverter nossas escolhas em prol da supremacia comunista.

Para tal intento, essa ala do pensamento usa e abusa das falácias, como as falácias emocionais (do medo, esperança, compaixão, elogio e testemunho); falácias mentais (autoridade, bom senso, tradição, novidade, dinheiro), falácias de causa e efeito (causa única, associação remota, generalização, lógica circular); falácias dedutivas (conclusões precipitadas, divisão-composição, relativismo, destino); falácias de manipulação de conteúdo (revisão infinita, amostragem, falso dilema, impossibilidade de prova, mentira insistente) e FALÁCIAS DE ATAQUE (desrespeito, espantalho), como essa empregada pelos professores contra o vídeo da jovem.

Etimologicamente o termo falácia deriva do verbo latino “fallere” e significa enganar. Falácia é um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. Tanto na lógica como na retórica, falácia é um argumento incoerente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega.

Bem, certa ou errada, a tese da moça merece respeito, porque ninguém é obrigado a enxergar as coisas do mundo pela nossa luneta. 

Então? Tudo aquilo que não passar pelas nossas lentes é ridículo, homofóbico, racista, ignorante e alienado? Creio que não. 

Peço vênia para exercitar a dialética e contribuir no debate.

Advertência admonitória: não vou defender a moça porque não a conheço e não tenho procuração. Não advogo “pro bono”, pois sou um advogado caro (para os padrões amapaenses, porque no eixo BSB/RJ/SP eu seria um pedinte, um esmoler esfarrapado arrastando sandália remendada com arame e um saco de sarrapilha nas costas! ) Kkk.

Primeiramente, quero elogiar a coragem da moça em expor suas ideias. Ideias engarrafadas egoisticamente não ensejam um ponto de partida para a proliferação do conhecimento. 

Certamente, pela pouca experiência ou querendo mostrar erudição, sem premeditação a jovem gravou o vídeo desconsiderando outras variáveis do mercado editorial. Também sou imberbe nesse setor, mas parto do princípio que livro é um produto que está ali para ser vendido, como um produto eletrônico, um gênero alimentício ou um remédio etc.

Vejam que a moça é bem jovem e eu sempre falo que PATO NOVO NÃO MERGULHA FUNDO! Kkk.

O lojista de eletrônicos quando tem um produto defasado, ele expõe estrategicamente nas prateleiras, baixa o preço, faz propaganda, “black friday” etc.

No supermercado, quando um produto está para vencer, colocam nas gôndolas de entrada, fazem pilhas do produto, baixam o preço, põem moças bonitas vendendo (os honestos alertam a validade do produto) e têm suas estratégias de marketing para os gêneros que não têm muito giro, são sazonais e com riscos de estragos e perdas pelo fundo de estoque.

Nas farmácias, a tática não é diferente! Colocam os produtos quase vencidos ou genéricos bem na entrada ao alcance da sua mão. A margem de lucro dos laboratórios chinfrins é bem maior que a dos laboratórios renomados.  E dê-lhe “empurroterapia” treinando os balconistas. Enquanto isso os remédios “blue chips” de patentes originais descansam nas vitrines dos fundos da farmácia.

E quanto ao livro, penso que a coisa é a mesma. Um livro tem como matéria-prima essencial os direitos autorais. O editor/livreiro compra os direitos autorais e depois tem que se “virar nos 30” para girar seu produto. 

É bem provável que muitas editoras investiram pesado no mercado editorial “de esquerda”, de LGBT e de outros temas sociais controvertidos apostando no continuísmo político que vicejava no país. Houve uma mudança política no comando e é razoável entender que cada governo incentiva, apoia ou tolera ideias segundo sua ideologia.

Portanto, o mero fato de os livros mencionados no vídeo estarem estrategicamente expostos dentro da livraria é um marketing para vender. Independe se o livro é de autores canhotos, da direita ou conservadores. Não vejo alienação política nisso, senão uma interpretação inexperiente e rasa, mas que merece ser esmerilhada.

A Livraria Cultura para mim é acima de tudo um “ponto turístico”, uma passagem obrigatória toda vez que vou à pauliceia desvairada comer uma chuleta no O Sujinho, um sanduba de pernil de porco no Bar da Folha nas frias garoas das madrugadas ou um vinho com massas na Cantina Roperto no Bixiga. Quando há patrocínio, subo nas nuvens do Terraço Itália para comer mal* e caro.  (*mal = pouco, Kkk).

Eu mesmo já fui vítima dessa estratégia de venda naquela livraria com um livro do Haddad em liquidação. Comprei e li. Ainda bem que eu moro no Brasil e não na Venezuela, porque se aqui faltasse papel higiênico eu o usaria para fins nada literários. Rss.

Ôooo, dá licença? Posso ou não dar meu veredicto sobre o conteúdo daquele livro com ideias comunistas anacrônicas que não cabem mais no mundo contemporâneo no meu ponto de vista? 

Mas tem gente que gosta, apoia o Foro de São Paulo, a criação da URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), estampa ainda no peito o covarde sanguinário Che Guevara e acha o regime cubano a 8ª maravilha. 

Já pensou uma “URSS latina”? Já imaginou que ia sobrar pro toba dos brasileiros sustentar essas republiquetas falidas e famélicas ao nosso redor? Uma amostra disso foram as hidrelétricas, estradas, metrô e portos que a esquerda fez nos arremedos de repúblicas latinas e africanas com o dinheiro do contribuinte brasileiro.

Um absurdo porque o pacto federativo do Brasil não consegue sequer cumprir o art. 3º da CF/88 em reduzir as desigualdades sociais e regionais internas.

Fazer o quê, meu amigo leitor? Uns gostam dos olhos, outros gostam da ramela. O mundo é assim e nós devemos compreender e respeitar o antagonismo, porque se o mundo fosse unânime seria muito chato e burro, não é mesmo? 

Mas a questiúncula me colocou uma pulga atrás da orelha: Existe patrulhamento ideológico nas nossas escolas? Eis uma grande dúvida... 

Ou de onde vêm tantos alunos contaminados pelos cânones de Gramsci, Marx ou outros pensadores dessa linha? Quem incutiu ideias liberais de Milton Friedman do lado reverso?

Desde a faculdade de engenharia civil na UFMT que adentrei em 1980 aos 17 anos até o meu doutorado em direito na PUC-SP em 2016, os professores foram eminentemente técnicos e não me recordo de nenhuma “lavagem cerebral”, exceto na graduação de direito na PUC-RJ onde me empurraram disciplina religiosa (rss). 

Sinceramente, eu nunca fui cerceado nem influenciado por professores em nada.

Quando adentrei na Universidade, já eram tempos de calmaria, na iminência da anistia geral, ampla e irrestrita e movimentos para manter a ordem. Ou seja, não havia espaço para libertinagens, que muita gente confunde com liberdade. 

Em nome dessa “liberdade” hoje os valores cívicos, da família e a ética foram para as cucuias... Como não se admite mais “censura”, virou a casa de mãe Joana, onde a nudez, inversão de valores, o culto a práticas heterodoxas, despudor e desrespeito são corriqueiros, sem limites nas mídias e horários impróprios invadindo nossos lares. 

E vai você falar pra ver... Se não concordam com a sua contrariedade, logo é rotulado de homofóbico ou outros carimbos.  Crucificam como a Cristo ou distribuem seus pedaços pelas ruas como fizeram a Tiradentes! Kkkk.

Se você não concorda com um governo liderado por um trabalhador que levou a Brasil ao livro de recordes Guinness Book pelo maior esquema de corrupção do mundo, você é taxado de “minion”, de negacionista, genocida, sexista e os escambaus a quatro. 

Na década de 90 eu pintei a cara, fui petista, da CUT e sindicalista do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e do Pará/Amapá. Quebramos o pau. Porém, aquele trabalhador que nós colocamos no poder nos traiu e fez práticas muito piores que aqueles que abominávamos. Megera se portar como megera, “nihil obstat”. O problema é a megera se travestir de freira e te enganar...

Assim, mudei de ala porque não há como apoiar uma quadrilha escondida por trás de uma legenda, cuja cúpula toda foi ver o sol nascer quadrado.

Hoje defendo a direita simplesmente porque não sou cego. Se votei em quem não é o melhor dos mundos, foi para apear do poder a turma do mensalão/petrolão, que é o pior dos mundos para mim. Não concordo com muitas boquirrotices palacianas deste e dos outros governos e meu voto não é carta branca. Por isso, sugiro à esquerda que agasalhem os rótulos a mim dirigidos nos seus mais profundos recônditos. 

Certo que há muita gente boa na esquerda, como há na direita ou no centro. Mas convenhamos: quem será o “poste” da vez? Uma retardada que não consegue concluir uma frase logicamente se não tiver um “ponto” enviado nas “zoreia”? 

Ou um comunista de carteirinha que apoia ideias retrógadas patrocinadas pelo Foro de São Paulo, tipo URSAL. E sair financiando republiquetas ditatoriais e comunistas mundo afora com o nosso suado dinheirinho dos impostos? 

Ou o ladino Zé Malvadeza, que era o poste da vez, porém alcaguetou outro ladrão, esquecendo que também era ladrão e que o ladrão “caguetado” era bocudo e intimorato?

Fiz essa incursão política para chegar ao ponto central do presente texto.

Por causa de minhas escolhas políticas e ideológicas, hoje me sinto patrulhado e ojerizado por uma galerinha rubra intolerante pelo simples fato das minhas ditas opções. 

 E como se dá esse patrulhamento? Bem, se dá por meio do discurso intolerante e raivoso, pelas aleivosias, adjetivações e falácias de espantalho. Quer ver?

Há algum tempo, também no dia dos professores, compartilhei no mesmo seleto grupo de professores uma piadinha envolvendo o Professor Girafales. A piada era que o Professor Girafales sim, era o exemplo de professor: fumava em sala de aula e pegava a mãe de aluno... rsss.

Milhares de leitores meus acharam graça, riram à beça. Mas uma professora doutora resolveu se abespinhar pela sua equivocada conotação de misoginia ou machismo. 

-Como assim, doutor? Comia a mãe de aluno? 

Ora, ora... é só uma piada. Quem assistiu o Chaves sabe que é um programa sem maldade, bem infantil. No “script” nunca o prof. Girafales deu um beijo sequer na Dona Florinda, mãe do aluno Kiko.

Não vejo discriminação, homofobismo, xenofobismo, racismo ou “bullying” em piadas inconcebíveis na prática, que de tão absurdas são hilárias. Se não há “animus injuriandi vel difamandi”, senão “animus jocandi”, essas reações são parte de uma onda momentânea que a história vai registrar como preciosismo.

Ou, lamentavelmente, um patrulhamento ideológico.

Agora, se fazem isso com um macaco velho de bunda pelada que não mete a mão em cumbuca e nem pula em galho seco, imaginem o que não fazem com os nossos inocentes macaquinhos intemeratos?

Por exemplo, um professor da Unifap colocou num plano de ensino da sua disciplina o sub-título  “O fascismo bolsonariano e a administração pública”. No interior de Goiás, uma professora instruiu adolescentes a calcularem o valor da cocaína contida em uma embalagem hipotética. E o Stédile, na aula inaugural da especialização em questão agrária da Ufape anunciou que o objetivo da disciplina era transformar os alunos em “pastorzinhos populares de esquerda”. São pérolas passíveis de corregedoria, sem dúvida alguma!

Infelizmente são inevitáveis as relações intersubjetivas professor-estudante intromissivas, não propositivas e não tematizadas, sob o pálio da liberdade de cátedra.


Dr. Adilson Garcia

Dr. Adilson Garcia

Fórum Íntimo – professor doutor em Direito pela PUC- -SP, advogado e promotor de justiça aposentado.



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